Era noite quando chegamos no hotel. Estávamos todos exaustos, cansados e sem energia alguma… até começarmos a polêmica discussão.
O fim de voo tinha sido bom, mas tão assustador quanto a decolagem. Confesso que fechei os olhos novamente. Claro que levei uma bronca do Rafa, mas… fazer o que.
Saímos de Recife sete e meia da noite e cá estávamos agora… em Porto de Galinhas… quem diria, hein, Lucas Henrique…
Neste momento, estávamos na recepção do hotel… e que hotel… ficaríamos hospedados no Hotel Village Porto de Galinhas… só pelo saguão, eu poderia dizer que este era um dos melhores hotéis da cidade. Quatro estrelas… me lembrei do Rafa comentando isso alguns dias atrás.
Mas, como eu estava dizendo, começamos uma polêmica discussão.
― Tudo bem. Eu, a Juliana e o Rafael. E, no outro quarto: Você, o Gabriel e o Lucas. ― Dona Olívia disse para seu Danilo, iniciando a fight.
Estávamos na recepção do hotel discutindo quem ia ficar em qual quarto. Dona Olívia, em sua sugestão, simplesmente tinha separado todos os casais. Quando ela disse isso, eu, o Rafa, o Gabriel e a Juliana nos entreolhamos preocupados. Todo mundo era contra essa disposição, mas ninguém se atrevia a dizer… como ir contra Dona Olívia quando o nosso único argumento era que queríamos dormir com nossos respectivos namorados? A nossa sorte foi que seu Danilo interviu.
― Acho melhor ficar em um quarto: Eu, você e o Rafael; e, no outro, fica: O Gabriel, a Juliana e o Lucas.
― Concordo! ― Gabriel disse imediatamente quando viu que ficaria com sua namorada.
Eu olhei preocupado para o Rafa. Eu não queria ficar em um quarto separado do dele.
― Não! ― Dona Olívia contestou. ― A Juliana tem que ficar em um quarto comigo, somos mulheres.
― Então eu fico com vocês! ― Gabriel sugeriu. ― Fica eu, a mãe e a Jú. E, no outro quarto, o pai e os meninos.
― Não! ― Seu Danilo contestou novamente. ― Eu vou ficar no mesmo quarto que sua mãe. E, já que ela quer ficar com a Juliana, fechamos um quarto. Aí você fica com os meninos, Gabriel.
Olha! Não é que seu Danilo deu uma ótima sugestão? Eu ficaria bem mais à vontade com o Rafa e com o Gabriel.
Gabriel ficou puto porque tinha sido separado de sua namorada.
― Papai tem razão! ― Rafa disse mais que depressa.
― Não! ― Gabriel reclamou.
― Não o que? ― Todos dissemos ao mesmo tempo.
― Aff… ― Ele suspirou decepcionado.
Era isso. Seu Danilo era a voz da experiência. Ficaria em um quarto: Ele, Dona Olívia e Juliana e no outro: Eu, o Rafa e o Gabriel! Perfeito! Não poderia ser melhor! Só o Gabriel que se fodeu por ficar longe da namorada.
― Então é isso, meninos! ― Seu Danilo disse. ― Vamos todos para os quartos para arrumarmos nossas coisas.
Eu olhei para o Rafa, que sorriu de volta.
Combinamos de nos encontrarmos em uma hora no restaurante do hotel, para jantarmos juntos.
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O Hotel tinha um estilo um tanto quanto diferente dos convencionais. Não era um prédio com infinitos corredores e portas… o hotel era na verdade uma vasta área de lazer com vários chalézinhos espalhados pelo seu espaço. Cada chalézinho era um quarto. Parecia mais um daqueles condomínios no estilo americano.
Eu, o Rafa e o Gabriel saímos da recepção, que ficava em uma casinha de madeira muito bem decorada e adentramos para o terreno do hotel. Era um lugar incrível. O lugar misturava o estilo indígena com o praieiro… eu diria que possuía uma atmosfera um tanto quanto tribal. Haviam várias ruazinhas que levavam para os mais diversos lugares. O terreno era bem plano com algumas poucas elevações e, por conta dessas, pude avistar uma quadra de tênis e uma piscina. Nós três, de acordo com as indicações do recepcionista, seguimos pela rua da esquerda e viramos na segunda direita. A partir daí, foi fácil avistá-lo… na metade da rua, que era uma ladeirinha, estava o chalé 16. O número 16 estava estampado em um pedaço de madeira que ornava com a decoração do local.
― Aquele ali é o nosso, né? ― Rafa perguntou ao irmão, que seguia na frente.
― É sim… ― ele respondeu.
Caminhamos por mais alguns segundos até pararmos na frente do dito cujo. Gabriel enfiou a chave na fechadura e destrancou a porta.
Olhei para o Rafa e ele estava distraído observando o local. Ele me olhou de volta e disse:
― Você tá quietinho… o que foi?
― Não tô não… ― respondi na defensiva.
― O que tá achando? ― Ele perguntou.
― De que?
― Da viagem… de tudo…
― Ah… ― respondi. ― Legal…
― Tá com fome?
― Ah… mais ou menos… ― fiz o gesto de mais ou menos com a mão.
― Hum…
Gabriel terminou de abrir a porta e nós entramos. O chalézinho era um lugar bem agradável. Assim que entramos, demos de cara com uma mini sala de estar, que possuía um sofá aconchegante, uma poltrona, uma mesinha de centro e uma televisão enorme de cinquenta polegadas. Essa salinha era perfeita… imaginei que gostaria de ter uma casa assim quando fosse mais velho. No canto da salinha, ao lado de um telefone, também tinha um frigobar.
Rafa, conforme foi atravessando a sala, retirou seus tênis e se jogou de barriga no sofá.
― Ah… eu amo esse lugar… ― ele disse. ― Poderia viver aqui pra sempre…
Eu sorri e olhei para Gabriel, que estava na porta que separava os cômodos. Ele fez sinal com a cabeça para que eu o seguisse. Eu atravessei a porta junto com ele e nós encontramos o quarto. Para a minha surpresa, o quarto só possuía duas camas… uma de solteiro e uma de casal.
― Vish… ― eu disse assim que percebi que teríamos um problema.
― Vish o que? ― Gabriel perguntou enquanto colocava sua mochila na cama de solteiro.
― Quem vai dormir aonde? ― Indaguei.
― Ué… ― ele disse com a maior naturalidade do mundo. ― Acho que está meio óbvio. ― Ele disse se jogando na cama de solteiro.
― Ah… fala sério… ― eu disse.
― O que?
― Até parece que vão me deixar dormir com o Rafa!
― Deixar? Ninguém precisa saber… e, além do mais, eu não vou dormir com o Rafael na mesma cama nem fodendo. Se você não quiser dormir com ele, durma no sofá, porque essa cama já é minha…
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― Mas…!
Do nada, alguém veio correndo e se atirou em cima de mim. Rafa me derrubou na cama de casal e ficou por cima.
― Não acredito que vamos dormir juntos!
― Mas… e se… ― eu tentei argumentar, mas a vontade de dormir com ele falava mais alto.
― Temos que nos arrumar. ― Gabriel disse se levantando da cama. ― Vamos jantar daqui a pouco e temos que tomar banho. Eu vou primeiro. ― Ele disse enquanto pegava uma muda de roupas na mala.
Tirei meus tênis e me ajeitei na cama. Rafa me acompanhou. Assim que Gabriel entrou no banheiro, Rafa beijou minha bochecha e começou a falar:
― Você tá muito quietinho…
― Tô nada! ― Respondi. ― Só não tô muito à vontade com a sua família.
― E por que?
― Porque sim, ué! Você lá fica à vontade com a minha mãe?
― É diferente.
― Diferente? Diferente como?
― Ah, ela já nos viu…
― Isso foi ontem! Você nunca ficou à vontade com ela! Nem quando éramos só amigos.
― Aff… mas com todo respeito, sua mãe é maluca…
― Eiiii! ― Reclamei.
― Maluca igual o filho… ― ele disse sorrindo e mordendo meu pescoço.
― Eiiii! ― Reclamei novamente.
― Éramos só amigos… ― ele me imitou falando. ― Não fala isso! Nunca fomos só amigos!
― Ah… claro… o que éramos, então?
― Sempre fomos quase-namorados… ou super-amigos!
― Super-Amigos? ― Eu disse rindo. ― Que bixa…
― Ah, e quase-namorados não é bixa?
― Também… mas que história é essa de quase-namorados?
― Vai dizer que você não era perdidamente apaixonado por mim desde o primeiro dia que me viu?
― Eu não! Me respeita, garoto! ― Eu disse rindo.
― Era sim. Você já disse isso uma vez.
― Você também era!
― Então! Quase-namorados!
― Hahaha…
― Eu vivia duro perto de você… ― ele confessou.
― Meu deus… que inapropriado… ― eu disse rindo.
― Vai dizer que você não?
― Tá… tudo bem… eu também vivia duro perto de você… até gozei uma vez sem querer…
― Hã? ― Rafa perguntou confuso. ― Que história é essa?
― É sério… uma vez a gente tava junto, aí começamos a brincar e eu gozei…
― Hããã!?!?!? ― Ele fez cara de confuso e começou a rir.
― Deixa eu ver se eu lembro… foi no primeiro dia que eu fui na sua casa… que a gente jogou Call of Duty… daí começamos a brincar com suas Nerf’s…
― Hã… o que tem?
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― Aí você subiu em cima de mim pra tomar minha arma… nessa hora eu já tava muito duro né, porque você insistia em ficar sem camiseta e queria que eu tirasse a minha também…
― Aaaaaaaahhh… nooooossaaa… ― ele disse rindo. ― Eu lembro desse dia! Você não queria tirar a roupa nem fodendo!
― Siiim! Aí né, você subiu em cima de mim todo suado pra tirar minha arma a força e eu não aguentei e explodi… ― eu disse rindo.
Ele começou a rir.
― Não acredito…
― Pois é… aconteceu… gozei muito… aí tive que ir me limpar no seu banheiro…
― Seu safadinho! ― Ele disse rindo.
― Safadinho é você! ― Eu disse apertando sua barriga.
Aí ele começou a rir e tentar fazer cócegas em mim também… daí começamos a rolar na cama brincando. Do nada, ele pegou o travesseiro e acertou na minha cara com tudo.
― Auuu! ― Eu gritei.
Peguei o outro travesseiro e acertei nele também. Daí começamos a fazer guerrinha de travesseiros. Não demorou muito até a brincadeira se tornar um pouco mais picante. Em um dado momento, ele abandonou o travesseiro e me agarrou. Primeiro ele me prendeu pela cintura e logo em seguida tentou morder meu braço… senti sua boquinha quente e molhada abocanhar minha carne.
― Aff… sai!! ― Eu me fingi de bravo, mas confesso que estava gostando.
Mas ele não estava me mordendo, estava apenas me chupando.
― Você vai me deixar todo babado! ― Eu gritei.
Mas, para a minha infelicidade, eu gritei isso no exato momento em que Gabriel abriu a porta do banheiro.
― Meu deus! ― Ele gritou lá de dentro. ― Vocês estão trocados?
Fiquei muito sem graça. Isso era uma coisa que eu nunca diria na frente dele.
― Idiota! ― Rafa gritou. ― A gente só tá brincando!
Gabriel deu uma espiadinha na porta e flagrou o Rafa sentado em cima de mim com a boca no meu braço.
― Aff… já vi que vou ter que dormir no sofá… ― Gabriel zombou a gente enquanto saia do banheiro já trocado.
Fiquei sem graça novamente. Não era natural para mim ter fama de safadinho… quer dizer… eu gostava de safadezas… mas somente entre quatro paredes… eu nunca tinha pensado que um dia eu seria uma dessas pessoas que faz putaria na frente dos outros, em público… e cá estava eu… esfregando no meu namorado enquanto ele babava no meu braço na frente do seu irmão. Senti minhas bochechas ficarem vermelhas.
― Vão tomar banho logo, estou morrendo de fome… ― Gabriel disse enquanto se atirava na cama.
Enfim… fomos tomar banho… um de cada vez, claro… estávamos à vontade, mas nem tanto né… nos trocamos e, assim que ficamos prontos, nos dirigimos para o restaurante do hotel.
Como iria jantar com o sogrão e com a sogrona, tratei de me vestir bem, né… passar uma boa impressão nunca é demais. Vesti minha camiseta polo mais bonita e fui.
Eu, Rafa e Gabriel encontramos os outros três integrantes da família no restaurante. O restaurante era bem chique e estava tendo show de música ao vivo.
― Olha eles aí! ― O pai do Rafa disse assim que nos viu.
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A mesa que eles estavam era redonda e tinha exatos seis lugares. Gabriel se sentou ao lado de Juliana, Rafa se sentou ao lado do irmão e eu fechei o círculo me sentando ao lado do Rafa e do sogrão.
Fiquei feliz de ter me arrumado para a ocasião. Tanto o senhor Danilo quanto a senhora Olívia estavam muito bem arrumados… acho que era do perfil deles sempre estar em suas melhores aparências. Juliana também tinha se vestido bem… agora… já os irmãos Mackenzie… ambos estavam normais… não que estivessem malvestidos, mas também não estavam elegantes… mas… quem sou eu pra julgar? Os dois poderiam estar vestindo trapos que continuariam parecendo deuses perfeitos… Rafa estava de camiseta e bermuda, enquanto o irmão vestia calças jeans e regata, deixando seus semi músculos a vista.
Nos próximos minutos, tratamos de pedir o jantar. Cada um pode escolher seu prato… tudo incluso na diária do hotel. E foi só o garçom se virar com os nossos pedidos que o interrogatório que eu tanto esperava começou.
― Então… ― seu Danilo começou. ― Juliana! O que achou da viagem?
― Ah! Foi ótima! ― A garota respondeu simpaticamente. ― Eu achei muito tranquila!
― E vocês, meninos? ― Seu Danilo continuou. ― O que acharam? Lucas?
― Ah… ― eu disse timidamente. ― Foi boa…
― O que achou do avião?
― Legal… ― eu disse.
― O Lucas fechou os olhos, pai! ― Rafa nos interrompeu.
Aff… que ódio! Era só o que me faltava! Rafa me desmentir e me fazer passar vergonha.
― É… mas só na hora da decolagem… ― eu o corrigi.
― É bem assustador, né? ― Seu Danilo tentou ser empático.
Eu fiz que sim com a cabeça.
― Pois eu vou te contar uma coisa engraçada que você provavelmente não sabe. ― Seu Danilo disse.
Continuei ouvindo.
― Na primeira vez que levamos o Rafael no cinema, ele só tinha três aninhos…
― Pai! ― Rafa tentou impedir seu pai de continuar.
― Ele passou metade do filme com os olhos fechados.
― Paaaai! ― Rafa disse enquanto escondia a cara com as duas mãos.
― Como era o nome do filme mesmo, Rafael? ― Seu Danilo perguntou.
― Monstros versus Aliens… ― Gabriel respondeu.
― Esse mesmo! ― Seu Danilo riu.
― Nunca vi alguém ter tanto medo de uma gosma azul. ― Gabriel zombou Rafa.
― Aff… ― Rafa reclamou.
― Três aninhos, hein, Rafael… o tempo passa… ― seu Danilo disse com tom saudosista.
Tentei imaginar o Rafa com três anos de idade… ele devia ser, no mínimo, super fofo… imaginei um bebezinho com cabelinhos loiros e olhos azuis…
― Já o Gabriel, Juliana… ― seu Danilo disse se virando para a garota.
― Paaaaai! ― Gabriel tentou o repreender.
― A crise existencial dele aconteceu quando ele assistiu Procurando Nemo no cinema, também tinha três anos. Nunca vi uma criança chorar tanto por causa de uma coisa que nem entendia…
― Pai! ― Gabriel reclamou.
― Mas, chega de fazer os meninos passarem vergonha… me diz aí, Lucas… já tem planos para as férias?
― Planos? ― Eu indaguei.
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― É… o que você vai fazer nesses dois meses de férias?
Talvez eu tentaria procurar um emprego… mas não acho que era isso que seu Danilo queria ouvir… quer dizer… acho que seria o pior jeito possível de acabar com a graça do jantar… tentei imaginar a reação dele ao ouvir isso…
A pergunta dele tinha sido muito tendenciosa… eu sabia que no fundo ele queria que eu respondesse: “Ah, vou aprender tocar violão!”… ou até mesmo: “Ah, vou praticar futebol!”… e eu também tinha certeza de que ele só tinha me perguntado isso para que em seguida pudesse exibir o que é que seus filhos tinham planejado para as férias. E, como eu não queria acabar com a graça do jantar dessa família perfeita trazendo a minha realidade triste e depressiva, eu apenas respondi:
― Ainda não sei… talvez praticar um pouco de futebol, ou… aprender a desenhar… sei lá…
― Hum… o Rafael já te contou o que ele pretende fazer? ― Ele me perguntou.
Não disse? É claro que ele queria contar o que os filhos iriam fazer!
― E o que ele pretende fazer? ― Eu perguntei e olhei para o Rafa.
― Ele vai aprender a tocar piano!
Ah, mas é claro. Piano. Quer algo mais estereótipo que isso?
― Ah é? Ele nem me disse… ― eu disse sorrindo para o Rafa, que revirou os olhos.
― Aproveitando o assunto… ― Gabriel disse. ― Eu e a Jú vamos entrar na aula de dança!
― Não brinca! ― O pai do Rafa disse. ― Eu e sua mãe já fizemos aula de dança, nós já contamos para vocês?
― Sério? ― Gabriel exclamou.
― Sim! ― Dona Olívia disse. ― Isso foi antes de vocês nascerem. Eu e seu pai entramos numa aula de dança de salão… na época era uma coisa descolada de se fazer… mas entramos mais pelo relacionamento mesmo. Quer deixar um relacionamento mais sério? Comece a fazer aulas de dança!
Um traço sutil de arrependimento apareceu no rosto de Gabriel. Sutil o suficiente para que só eu percebesse. E eu entendia o porquê. Gabriel não parecia ser o tipo de rapaz que estava em busca de um relacionamento sério.
― Mas então… Lucas… o que você espera dessa viagem? ― Seu Danilo continuou com o interrogatório.
― Ah… já está sendo demais, pra mim… primeiro o avião… depois o hotel… e amanhã ainda tem a praia… eu não tenho nem como agradecer essa oportunidade que vocês estão me dando. Espero um dia poder fazer por alguém o que vocês estão fazendo por mim hoje. Obrigado mesmo, senhor Danilo… e senhora Olívia… de coração.
― Awnt! Você merece, Lucas… ― Dona Olívia disse. ― Você é muito querido por nós! Você sabe disso, né?
― Obrigado… ― eu agradeci.
É… tudo que eu disse era verdade. Eu ainda não estava acreditando que eu estava viajando com o meu… namorado… pelo Brasil. Não só com ele, mas… com toda família dele… era como se eu fosse de casa também… querendo ou não, eles eram minha segunda família… eu sentia que podia contar com qualquer um ali…
Enfim… continuamos nosso jantar em família serenamente. Eu não podia reclamar desses jantares… este seria apenas o primeiro de muitos. Se tinha algo que faríamos muito nessa viagem, seria comer junto… então… eu realmente não tinha o que reclamar.
O resto da noite foi legal. Passar tempo com os Mackenzie só me fazia ficar mais indignado com o quão normal eles conseguiam ser. Normais e felizes. Nem o fato de o filho deles
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namorar um outro garoto parecia chateá-los. Posso dizer que eu era quem mais ficava feliz com isso.
Terminamos de comer e de conversar e decidimos que seria bom irmos dormir, porque já se tinha passado das onze da noite e tínhamos que acordar cedo amanhã, para podermos aproveitar bastante a praia. Ainda bem que eles dormiam cedo… eu já estava morrendo de sono.
Deixamos o restaurante juntos e nos despedimos na bifurcação que separava os dois caminhos. A partir daí eu, Rafa e Gabriel voltamos para nossa cabaninha.
Chegando lá, nós três fomos até o quarto. Era hora de dormir. Retirei meus tênis e me sentei na cama. Rafa retirou a camiseta e foi procurar seu pijama na mala. Gabriel entrou no banheiro para escovar os dentes.
― Já vamos dormir? ― Perguntei para o Gatinho.
― Ah… não sei… por que? O que você quer fazer?
― Não sei… ― eu disse pensando em sexo. Pena que Gabriel dividiria o quarto com a gente.
― Se quiser, a gente pode ver um filme… ― ele sugeriu. ― Tem uma televisão enorme na sala.
― Não sei… tô com sono… acho melhor a gente ir dormir…
― Você que sabe… ― Rafa disse vestindo a camiseta de pijama e abaixando a bermuda.
― Acha que eu falei muita merda? Hoje? ― Indaguei.
― Lá no jantar? ― Ele perguntou enquanto vestia o shortinho do pijama.
― Sim…
― Não… por que você falaria merda?
― Ah… não sei… ― eu disse pensativo.
― Você sabe que eles gostam de você, né? ― Ele disse enquanto vinha se sentar na cama comigo.
― Sei, mas…
― Por que você tá tão incomodado e desconfortável? Não te vi relaxar um minuto desde que saímos de casa.
― Você sabe o porquê. ― Respondi.
― Era pra eu saber?
― Não gosto quando vocês pagam tudo.
― Ainda tá incomodado com isso?
― Aff… você não entende!
― Entendo sim! Você tá paranoico já! Isso é paranoia.
― Não entende. ― Eu retruquei. ― Seus pais devem estar me achando um folgado…
― Ninguém tá pensando isso!
― Eu sei… mas podem pensar…
― Tá preocupado com o que as pessoas podem pensar, agora?
― E se seu pai achar que…
― Ah… não vou mais discutir isso com você.
― E se seu pai achar que eu tô namorando você por causa do…
― Se você falar dinheiro, eu termino com você agora.
― Por causa do dinheiro.
― Aff… GABRIEL!!! ― Rafa chamou o irmão.
Gabriel apareceu no quarto.
― O Lucas tá com crise de consciência. Diz pra ele que ninguém acha que ele é um agiota.
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― Ninguém te acha um agiota, Lucas. ― Gabriel disse enquanto passava fio dental nos dentes com a maior indiferença do mundo.
― Muito convincente! ― Eu disse para o Gabriel.
― Relaxa, Lucas. Como o Rafa disse, você tá paranoico… a Jú nem chegou a pensar nessas coisas que você tá pensando.
― É claro! Com todo respeito, mas sua namorada carrega na bolsa o que minha mãe ganha em um ano!
― Claro que não! ― Ele retrucou. ― Papai e mamãe não veem dessa forma, Lucas. Eles te consideram parte da família! Ninguém tá pensando nos gastos, só você.
Alguém tem que pensar, né… pensei comigo mesmo.
― Tá melhor? ― Rafa perguntou.
Eu fiz que sim com a cabeça.
― E que história é essa de piano? ― Eu perguntei.
― Aff… ― Rafa disse rindo. ― Isso é coisa do meu pai… ele quer que eu me torne mais culto… como se aulas de piano pudessem me deixar mais culto.
― E você vai fazer? ― Perguntei.
― Tô pensando… você faz comigo?
― Ah… tá bom… até parece que eu sei tocar piano…
― Mas você faz aula pra aprender, seu idiota!
― Sou pobre Rafa… pessoas pobres não têm capacidade de aprender esse tipo de coisa…
― Aff… vai tomar no cú… ― ele disse rindo.
Gabriel riu também. Ele riu e disse:
― Bom, agora, se me dão licença, vou sair com a Jú. Não me esperem acordados.
― O que? ― Rafa exclamou. ― Tá falando sério?
― O que? Acha que eu vou dormir agora? Com minha namorada à trezentos metros de distância?
― E aonde vocês vão?
― Sei lá! Dar uma volta por aí! Você viu o tamanho desse hotel? Dessa cidade?
― Vocês vão sair com o carro? ― Rafa perguntou.
― Não. Já viu a brisa que tá lá fora?
― Podemos ir? ― Rafa perguntou.
― Claro que não! ― Gabriel retrucou. ― Vocês vão dormir!
― Não queria ir mesmo! ― Rafa respondeu dando de ombros.
― Bom… eu vou indo porque a Jú tá me esperando. E, se vocês forem… erm… seja lá o que vocês fazem… a Jú disse que o papai tá vindo aqui, então… ah… vocês entenderam…
― Nós não…! ― Rafa tentou argumentar inutilmente.
Daí Gabriel se retirou do quarto, nos deixando sozinhos. Eu abri a boca de sono e Rafa olhou para mim.
― Tá com sono? E o filme?
― Ah… podemos assistir… ― eu disse. ― Mas eu provavelmente vou dormir no meio, que não estou me aguentando.
― Você sabe que eu tenho um remédio pra sono, né? ― Ele disse rindo.
― Ah é? ― Eu disse. ― E por acaso esse remédio mede doze centímetros?
― Doze e meio, pra falar a verdade. ― Ele disse rindo e subindo em cima de mim na cama.
― Hum… acho que já estou começando a me despertar… ― eu disse rindo.
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― Se despertar ou se despertar? ― Quando ele disse o segundo despertar, agarrou minhas partes íntimas, fazendo referência à minha ereção.
Ele se aproximou de mim e me deu um beijinho na bochecha.
― Mais embaixo, por favor… ― eu pedi.
Daí ele beijou meu pescoço e disse:
― Aqui tá bom?
― Mais embaixo!
Daí ele beijou meu peito e perguntou novamente:
― E aqui? Tá bom?
― Mais embaixo! Mais embaixo! ― Eu implorei.
Daí ele levantou minha camiseta, beijou meu umbigo e perguntou:
― Tá bom?
― MAIS EMBAIXO! ― Eu gritei.
Nessa hora, ouvimos alguém entrar no chalé.
― Meninos? ― O pai do Rafa gritou. Aff… com certeza ele tinha me ouvido gritar.
Nessa hora, eu dei um pulo da cama e me ajoelhei no chão. O Rafa ficou sem entender o que eu estava fazendo. Daí eu fingi que estava olhando debaixo da cama e disse:
― Acho que tá mais embaixo!
Seu Danilo entrou no quarto e disse:
― Ah… oi, meninos!
― Oi pai… ― Rafa disse.
― Oi, seu Danilo! ― Eu o cumprimentei. ― Deixei meu celular cair aqui embaixo. ― Eu disse tentando disfarçar.
― Hum… ― ele assentiu. ― O Gabriel vai sair, tá bom? ― Ele disse para o Rafa.
― É… ele falou.
― Ele tá com a outra chave do quarto, então é bom vocês trancarem aqui quando forem dormir.
― Pode deixar, pai… ― Rafa disse.
Me deu vontade de rir. Até parece que não iriamos trancar essa porta essa noite…
― Onde vocês vão dormir? ― Seu Danilo perguntou.
― Eu e o Gabriel vamos ficar aqui na cama de casal. E o Lucas na de solteiro. ― Rafa gabaritou a pergunta.
― Tudo bem. Não demorem pra dormir, tá bom? Eu e sua mãe já vamos dormir.
― Tá… ― Rafa assentiu.
― Lucas, meu filho, precisa de alguma coisa?
― Não senhor. ― Eu respondi.
― Tá bom, então. Se precisarem de alguma coisa, estamos no chalé 21. Podem usar o ramal… é só discar 121… tem que botar o 1 na frente do número do quarto, tá bom?
― Tá, pai. ― Rafa assentiu.
― Escovem os dentes.
― Tá…
― Então tá… amanhã vamos nos levantar às oito, pode ser?
― Pode. ― Rafa concordou.
― Aí a gente toma café e vamos para a praia às nove. Okay?
― Tá… ― Rafa concordou novamente.
― Tudo bem pra você, Lucas?
― Tudo bem sim. ― Eu concordei.
― ―
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― Tá… lá para às oito da manhã a gente passa aqui pra acordar vocês. ― Seu Danilo disse.
― Não precisa, pai. ― Rafa disse. ― A gente acorda sozinho.
― Mas eu vou passar aqui mesmo assim.
― Você que sabe. ― Rafa deu de ombros.
― Então tá… vou indo. Boa noite, meninos.
― Boa noite, pai. ― Rafa disse.
― Boa noite, seu Danilo. ― Eu disse.
E ele se retirou. Assim que ele saiu, Rafa ficou parado em frente a porta de entrada do chalé.
― Um… dois… três… ― ele contou até dez e girou a chave da porta.
Daí ele olhou para mim e disse:
― É… enfim sós…
Eu sorri com um pouco de vergonha. Saímos da sala e voltamos para quarto. Chegando lá, me sentei na beirada da cama de casal e Rafa se sentou ao meu lado.
― Tá tudo bem? ― Ele perguntou.
Eu fiz que sim com a cabeça.
― Só tô um pouco cansado.
― Ainda quer? ― Ele perguntou.
― Pode ser… ― eu respondi.
Daí eu me arrastei até o centro da cama e fiz sinal pra ele vir. Ele veio até mim e me beijou.
Nós dois estávamos sentados lado a lado, mas ele estava de frente pra mim. Nossas bocas se encostaram e isso foi o suficiente para me deixar excitado. Eu sempre ficava duro quando beijava ele. Ele passou uma mão pelo meu corpo e eu passei meus braços pelo seu pescoço. Não demorou dois segundos para cairmos na cama. Me deu um pouco de sono.
Ele passou uma perna por cima de mim e enfiou uma mão na minha camiseta, para sentir meu peito e minha barriga.
Daí ele desgrudou nossas bocas e disse:
― Tava com saudades…
― Eu também… ― eu respondi.
A última vez que tínhamos tido um contato sexual decente tinha sido alguns dias atrás… naquela vez em que minha mãe nos atrapalhou. Desde então, não tínhamos feito mais nada juntos… eu tinha ficado só na punhetinha mesmo… mas ele, pelo visto, tinha se guardado para mim.
Dava para perceber quando o Rafa ficava mais excitado que o normal. Ele agia de forma mais impulsiva e desesperada. Ele sempre ficava assim quando ficávamos muito tempo sem… ah… você sabe… eu gostava dele assim… ele ficava mais gostoso… mais violento…
A única janela do quarto estava coberta por uma grossa cortina e a porta estava fechada, deixando o ambiente mais quentinho. Eu estava amando o clima daqui.
No quarto, apenas um abajur amarelo aceso e dois pré-adolescentes já nus se experimentando no aconchego de uma cama. Tinha pelo menos quatro pacotinhos de camisinhas espalhados pela cama quando o Rafa apanhou uma para vestir. Não me pergunte como eles haviam parado lá.
Como sempre, ele tomou a iniciativa e o controle e me virou, para que eu ficasse de barriga para baixo na cama.
Peguei dois travesseiros e botei embaixo da barriga, para ficar em uma posição mais confortável tanto para mim, quanto para ele. Senti meu pintinho molhar o travesseiro quando
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encostei minha cabecinha repleta de pré-porra no tecido branco e macio da almofada. Essa posição estava tão confortável que me fez abrir a boca de sono novamente.
Rafa, delicadamente, derramou uma gota de lubrificante no meu buraquinho e se posicionou atrás de mim. Senti ele me segurar pela cintura com suas mãozinhas quentes enquanto colocava pressão atrás de mim.
Senti a borracha suave da camisinha provocar os mais diversos prazeres e as mais deliciosas sensações atrás de mim. Ele foi enfiando aos poucos. Soltei um suspiro de prazer quando senti sua cabecinha encostar naquele ponto que sempre me fazia delirar de tesão. Me perguntei se o Rafa sabia o quão gostoso era ser estimulado naquele lugar… daquele jeito…
Como é que ele não gostava de dar, sendo tão bom do jeito que era? Talvez eu não soubesse comê-lo direito… sei lá… da mesma forma com que ele sempre me comia… queria que ele sentisse isso que eu estava sentindo agora.
Senti seu pinto me penetrar mais profundamente e a pressão no meu cuzinho (e consequentemente na minha próstata) aumentou. Senti aquela sensação de quase ejacular e isso só fez vazar mais pré-porra pelo meu pau.
E, a partir daí, ele começou os vagarosos movimentos de vai e vem… e vai e vem… e vai… e vem… e… …. vai… … e… … vem… …
O prazer e o cansaço foram tomando conta do meu corpo cada vez mais… e… vai… e… vem… e tudo foi escurecendo… e… vai… e… vem… cada vez mais escuro… cada vez mais confortável… e vai… e vem…
― Lucas? LUCAS!
Nunca foi tão difícil abrir os olhos. Minhas vistas estavam muito pesadas… era como se segurassem todo o peso do mundo. Senti uma mão me chacoalhando.
― Lucas! Acorda!
Demorou para que eu compreendesse o que estava acontecendo. Rafa estava ajoelhado ao meu lado com sua semi ereção coberta por uma camisinha. Eu estava deitado na cama, também pelado, com minha bunda virada pra cima toda melecada de lubrificante. E, para piorar, no canto da minha boca eu podia sentir uma baba que só alguém que estivesse dormindo conseguia produzir.
― Você dormiu! ― Rafa reclamou.
― O que? ― Eu disse enquanto tentava abrir os olhos.
― Você… dormiu…
― Não dormi não! ― Eu disse enquanto levantava meu corpo e limpava a baba da minha boca.
― Não acredito que você dormiu. ― Rafa reclamou novamente.
― Não dormi, porra. Tô acordado. ― Eu disse.
― Você dormiu enquanto a gente… enquanto a gente… ― Rafa começou a andar pra lá e pra cá como se fosse o fim do mundo.
― Desculpa. ― Eu disse.
― Não… não tem problemas… você tá cansado…
― Um pouco só… ― eu disse. ― Mas vem… tava bom…
― Você nem tá duro! ― Ele disse e apontou para mim.
Olhei para baixo e… era verdade… eu não estava mais duro…
― Desculpa… ― eu disse novamente.
― Não tem problemas… ― ele disse meio confuso.
― Vem! Tava gostoso… ― eu disse e abri a boca de sono.
― Aff… você precisa dormir… ― ele disse. ― Vai se limpar… deixa que eu termino isso sozinho…
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― Gatinho… ― eu disse manhosamente.
― Relaxa… tá de boa…
― Você ficou chateado? ― Eu perguntei enquanto me levantava da cama.
― Não…
― Tem certeza? ― Perguntei.
― Sim… ― ele respondeu.
Fui até o banheiro para me limpar. Passei uma água na bunda, me enxuguei e vesti minha cueca. Ele já tinha tirado a camisinha e estava de cueca também.
― Desculpa, tá… ― eu disse novamente.
― De boa…
Ele tava chateado. Eu podia ver claramente no rosto dele.
― Você vai dormir também?
― Só vou terminar isso daqui… pode ir dormindo aí…
― Fél… ― eu disse indo me sentar ao lado dele.
― Tá de boa… sério… ― ele disse olhando para o chão.
― Vem dormir comigo… ― eu pedi.
― Eu já vou… ― ele disse.
― Tô carente… ― eu disse e abracei o seu corpo.
― Tô vendo… ― ele disse de forma rude.
― Aff… ― eu reclamei.
Levantei da cama e, enquanto eu terminava de me vestir, ele foi até o banheiro e fechou a porta. Achei melhor deixar ele lá sozinho. Daí voltei para o meu lado da cama, me deitei e deixei o sono me levar.
* * *
Manhã… cruel manhã… sem dúvidas, a pior hora do dia… a alvorada foi anunciada com um insuportável bipe de algum maldito alarme de alguma porra de um fucking celular. Minha cabeça doía e a única coisa que eu queria era mais algumas dezoito horas de sono. Mas, de todas as pessoas ali, eu era a última que podia reclamar.
É, Lucas Henrique… o senhor vem para Porto de Galinhas com a família do seu namorado sem pagar nada e quer fazer o que? Dormir? Pelo amor de deus… levante essa bunda da cama…
Aaaah… mas a cama tava tão boa… o quarto tava escurinho, quentinho e aconchegante. Eu estava do lado direito da cama. Rolei para o lado e vi que o Gatinho estava na cama comigo. Me lembrei do que tinha acontecido ontem e fiquei com um pouco de vergonha e de remorso.
Rafa sentou a mão no celular que estava ao seu lado e disse:
― Cala… a porra… da boca…
― Bom dia… ― eu disse baixinho para ele.
― Quero morrer… ― ele reclamou com sono.
Fiquei em silêncio. Não sabia bem o que dizer… olhei para o outro canto do quarto e tinha alguém dormindo na cama de solteiro. Era Gabriel. Tão revoltado com a luz do sol quanto o resto de nós. Parece que os irmãos Mackenzie tinham tido uma longa noite… e, sem dúvidas, quem mais tinha descansado ali era eu… então… achei justo ser o primeiro a levantar para escovar os dentes.
Levantei da cama e fui até o banheiro do quarto. Parece que o Rafa tinha arrumado toda a bagunça de ontem antes de dormir. Passei pasta na escova e dei uma olhadinha nos meus dentes… fiquei feliz por eles estarem brancos cor de leite… redobrei meus cuidados dentais
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quando comecei a ficar com o Rafa… só namorando mesmo pra passar fio dental todo santo dia. Joguei uma água no rosto e no cabelo, me enxuguei com a toalha e fui fazer xixi.
Ah… hoje seria um dia e tanto… eu estava um pouco ansioso para poder conhecer o mar. É claro que eu já tinha visto em filmes, mas… pessoalmente devia ser bem diferente.
Depois que eu terminei de me arrumar, Gabriel criou coragem, se levantou e caminhou sonambulamente em direção ao banheiro. Daí eu fui até a cama de casal, me sentei na beirada, ao lado do Rafa, e comecei a passar a mão em seus cabelinhos dourados e macios.
― Bom dia… ― eu disse sorrindo.
― Quero morrer… ― ele respondeu.
― Você já disse isso… ― eu disse rindo.
― É porque é verdade… ― ele resmungou.
― Tô ansioso pra ir pra praia… ― eu confessei.
― Ugh… ― ele resmungou novamente. ― Ainda não acredito que você dormiu.
― Aff… ― Eu disse e deitei com minha cabeça em cima de seu corpo. ― Fica assim não, meu Gatinho… eu gosto tanto de você… você sabe que não foi por mal… eu tava cansadinho…
― Ainda não acredito que você dormiu… ― ele disse novamente.
― Aff… vai ficar de mau humor o dia inteiro?
― Quero morrer… ― ele respondeu.
― Você já disse isso… ― eu disse rindo.
― É porque é verdade… ― ele resmungou.
Eu ri da repetição da nossa conversa. Não demorou muito até Gabriel sair do banheiro, mas Rafa insistia em continuar deitado na cama. Gabriel me ajudou a montar minha mochilinha para a praia.
― Você tem que levar o protetor, uma toalha, duas camisetas… ― ele continuou citando a lista de coisas que não poderiam faltar no dia de hoje. ― E é melhor que você já vá trocado para a praia, com sua sunga, eu digo…
― Tá… vou lá me trocar… ― eu disse.
Enquanto eu estava me trocando para a praia, o pai do Rafa apareceu pelo quarto e tirou o bicho-preguiça da cama.
Terminei de me trocar, saí do banheiro e foi a vez do Rafa entrar. Enquanto esperávamos por ele, seu Danilo repetiu a mesma lista de itens que não poderiam faltar para mim. Eu estava pronto para ir.
Eu tinha vestido minha sunga, meu short de nadar, minha camiseta cavada, meu boné e aqueles óculos escuros que não podiam faltar.
E assim, nós seis saímos do Hotel Village Porto de Galinhas e caminhamos em direção à praia. A primeira praia que escolhemos para conhecer ficava a quinhentos metros do hotel. Não demoramos nem quinze minutos para chegar.
Nem preciso dizer que eu estava encantado com a vista, né? Eu sabia que o oceano era bonito, mas não imaginava que seria tanto. Pude contemplar aquela imensidão azul decorada com magníficas ondas brancas de sais.
Enfim… por incrível que pareça, parece que o Rafa estava mais animado que eu com a praia. Ele estava eufórico. Doido para me mostrar tudo. Nós seis encontramos um bom lugar para armarmos o guarda-sol e nos instalamos em uma areazinha dali. Rafa jogou tudo o que segurava nas mãos no chão e gritou.
― VEM LOGO! ― E saiu correndo.
Eu não pude deixar de aceitar seu convite. Também larguei tudo o que tinha no chão e saí correndo atrás dele.
― MENINOS! ― Dona Olívia gritou. ― VOCÊS TÊM QUE PASSAR PROTETOR SOLAR!
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Enquanto Rafa corria, ele retirou a camisa e a jogou para trás. Eu fiz o mesmo. Fomos correndo em direção ao mar, porém ele era mais rápido.
O brilho do sol fazia seus cabelos reluzirem num dourado encantador. O vento da brisa marinha, junto com a areia da praia, me provocavam um gosto novo na boca… um gosto salgado. E era incrível a sensação de se ter areia morna tocando seus pés.
Nós dois corremos. Corremos em direção ao mar. Corremos em direção ao céu. Corremos como se não existisse mais mundo. Como se não existisse mais amanhã. Como se só existisse nós dois. Eu e ele. Ele e eu.
E corremos… até que nossos pés finalmente deixassem de sentir a areia quente da praia e passassem a sentir o salgado azul do mar.