NAMORO SECRETO (1)
Não tem nem um mês que completei dezenove anos e já estava sentindo o “cheiro da liberdade”. Quer dizer, do jeito que eu sou já sentia cheiro, gosto e as sensações. Meus pais viajariam na sexta-feira e no mesmo dia, eu daria uma festa. Bom, a festa seria à noite, porque pela manhã eu faltaria o cursinho para o vestibular para jogar futebol, depois iria para um churrasco na casa de um amigo meu e durante a tarde, faria qualquer coisa que desse na telha, até as sete e pouco da noite, onde o pessoal já estaria no portão lá de casa, para arrumarmos o local para uma insana festa.
Já estava tudo preparado e eu, claro, todo animado. Só que a minha animação durou pouco, uma semana. Não, nem isso.
Quando cheguei lá em casa, na quinta-feira, eu vi várias malas na sala e faltou pouco para que eu abrisse aquele meu sorriso de felicidade. Meu pai estava surtando, indo de um lado para o outro, enquanto minha mãe, para a minha surpresa, estava no meu quarto. Fiquei surpreso porque quase nunca ela invade o meu “mundo”, mas antes que eu fosse averiguar, recebi uma mensagem no meu celular da Nandinha, uma ruiva que anda me enrolando com suas mensagens enigmáticas e me deixando louco de tesão.
Nandinha e eu estudamos, na mesma sala, ano passado e raramente trocávamos palavras, quanto mais, olhares. Por uma “sorte” do destino, nos reencontramos, agora, na mesma sala do curso para vestibular. E quando duas pessoas que se reconhecem dentro de uma sala com quase cem desconhecidos, a ideia é se unir. Dessa união, surgiu uma leve amizade, se é que eu posso considerar amizade.
Nandinha, que tem quase um metro e setenta de altura, possui um lindo e longo cabelo ruivo, pele rosada, olhos castanhos escuros, rosto pequeno e uma boca que eu estou louco para provar. Para me encantar ainda mais, Fernanda, que não gosta de ser chamada pelo nome (acho isso estranho), tem uma voz que me faz arrepiar alguns pontos do meu corpo, mais precisamente, a barriga e minha nuca. Sem falar que ela tem um perfume não muito doce, que me provoca as mais diversas reações. Seu jeito de menina ingênua traz dezenas de fantasias eróticas, nas quais eu tenho em casa e o mais perigoso, bem perto dela.
O problema é que, eu e a Nandinha… Não conseguimos nos aproximar. Às vezes ela começa uma conversa e eu só consigo escutá-la. Não que eu não tenha uma opinião formada, mas descobri que ela é muito “nerd”. Ou seja, ela é fodásticamente inteligente, enquanto eu… sei lá. Não. Longe de ser burro. Eu também tirava muitas notas altas no colégio. Não digo sobre a Nandinha ser só inteligente em relação às matérias, mas às questões da vida, da morte, do tempo. E os livros que ela lê? Sartre, Jorge Luis Borges, Tchekhov, André Comte, Bakunin, Dostoiévski e por aí vai.
Meus livros e escritores? Bukowski, Salinger, Anais Nin, Neil Gaiman, biografias, mangás. Nada de clássico, só de escritores loucos que pensavam em sacanagem.
E já me fiz àquela pergunta:
“-Eu gosto da Nandinha ou só a acho gostosa?”
Linda, pele rosada, magra, cabelão, seios grandes, rosto delicado, voz angelical, entre outras pequenas coisas que ela me deixou excitado, como seu perfume, seu olhar quando ela acha que eu não percebo e seus leves toques em mim, mesmo que de raspão. Ah, e claro, suas mensagens…
Abro o aplicativo de mensagens e só tem uma foto que ela mandou. Espero carregar e a vejo usando uma camisa de lenhador vermelha, com dois a três primeiros botões abertos e um pouquinho dos seios à mostra. O cabelo de Nandinha está solto e ela inclina suavemente sua cabeça para o lado, dando um leve sorriso. Olho para a foto e não sei o que responder. Sou um cara diferente, e não curto mandar àqueles tipos de mensagens, tais como:
“-Princesa.” – nem sob ameaça eu escrevo isso!
“-Linda.” – ela sabe que é linda e não precisa que eu a lembre disso.
“-Gata.” – brega.
“-…” – não tenho a menor ideia do que escreverei.
Parado diante da porta da minha casa, segurando meu celular e olhando a foto da Nandinha, ouço ao longe a voz da minha mãe me chamar, lá do meu quarto:
-Miguel!
Antes de sair do meu estado de paralisia, resolvo mandar um e Moji e seguir para o meu quarto. Entrando, vejo em cima da minha cama uma mala grande e fico sem entender.
Logo passa meu pai e para, atrás de mim, perguntando para a minha mãe:
-Então meu amor, já disse para ele?
-Disse o quê? – perguntei com a boca aberta, olhando para meu pai e depois para a minha mãe.
-Miguel… – minha mãe adora fazer essas longas paradas, dizendo meu nome e “procurando” seus eufemismos inúteis.
-Dá para vocês falarem o que está rolando? – pergunto para ambos, abrindo meus braços, provavelmente com meus olhos esbugalhados e com uma cara de dar arrepios.
-Miguel… Você não vai mais ficar sozinho aqui em casa. – Disparou a minha mãe.
-Oi? – perguntei. Ou será que gritei?
-Achamos melhor não te deixar sozinho. Quer dizer, não haverá ninguém aqui em casa, porque sua mãe arranjou um lugar para você ficar.
-Oi? – agora sei que gritei.
-Você vai ficar na casa de uma amiga minha. A Simone. Lembra-se da Simone, querido? – minha mãe não pergunta para mim e sim, para o meu pai, que responde:
-Vagamente.
-Hã? Como assim? Por que eu não vou ficar aqui em casa? Vocês disseram que eu ficaria.
-Não. Nós te iludimos. Foi isso. – Retrucou meu pai e eu não pude acreditar na resposta dele, apesar de conhecê-lo bem e saber que ele sempre foi curto e grosso em suas frases.
Olhei para a minha mãe e novamente abri meus braços, como que a perguntar mentalmente:
“-Mãe, que porra é essa?”
Logo, meu pai continuou:
-Você acha mesmo que deixaríamos você aqui? Sozinho?
-E por que não? Não confiam em mim?
E meus pais quase falaram ao mesmo tempo:
-Confiamos.
-Então? – perguntei, querendo saber mais detalhes e não conseguindo acreditar no que estava acontecendo.
-Confiamos em você, mas sabemos das suas intenções meu filho. Sabemos que vai dar uma festa, onde provavelmente vai parar esta rua e que talvez até a polícia seja chamada. Caso ocorra isso, vai precisar de alguém que lhe tire da cadeia depois de vinte e quatro horas.
“-Será que alguém falou da festa?” – pensei, mas sem desistir da minha futura quase conquista que é a de ficar em casa sozinho por alguns dias!
-E quem disse que eu daria uma festa? – olhei para a minha mãe, porque quando eu falei, soou um pouco sarcástico.
-Uma? Umas festas, você quis dizer. – Emendou meu pai.
-Já está decidido, Miguel. Você vai para o interior, ficar na casa da minha amiga, a…
-Como é que é mãe? No interior? Que interior?
-De Minas, uai. – falou rindo meu pai, saindo de perto de mim, sabendo que eu surtaria naquele momento.
-O quê? Por quê? Por que eu tenho que sair da minha casa, do meu conforto, para ir para um lugar que eu não conheço? Se vocês não querem me deixar sozinho, tudo bem, mas por que é que eu é que tenho que sair? Estão de sacanagem?
-Olha o linguajar moleque! – gritou meu pai, do quarto deles.
Olhei para a minha mãe e não sabia de quem partiu a ideia estapafúrdia. E pelo olhar que minha mãe me deu, ela e nem meu pai me defenderiam. E para completar, parece que minha mãe leu a minha mente.
-Filho. Eu e seu pai sabemos que assim que saímos de viagem, o caos entrará aqui. Sabemos que matará as aulas, que irá jogar futebol, que provavelmente já deve ter convidado seus antigos colegas de turma para dar festas aqui em casa… – e não bastasse minha mãe falando todos os meus planos, vem meu pai e contribui:
-Que fará festas temáticas, regadas a sexo e a álcool, que provavelmente terá ou orgia ou suruba aqui dentro desta casa.
-Pai! Menos!
-Você me perguntou sobre isso semana passada, filho.
Pai! – tento calar a boca do meu pai, com vergonha da minha mãe.
Minha mãe parece já saber sobre isso e talvez às minhas perguntas curiosas para o meu pai, estejam relacionadas com as decisões da minha mãe.
-Miguel, sem discussões! Venha arrumar sua mala. Passará uns dias na casa da Simone. Ela é legal.
“-Legal?” – perguntei mentalmente, não tendo muita certeza no que minha mãe disse. Acho que nem ela acreditou no que falou.
Vejo minhas roupas em cima da minha cama, assim como cuecas, meias, sandálias, entre outras coisas. Balanço a minha cabeça em negativa, não acreditando que fui enganado por meus pais.
Assim que minha mãe saiu do meu quarto, passando a mão na minha cabeça e desarrumando meu cabelo em sinal de carinho, fechei a porta do meu quarto à chave. Senti meu peito sendo esmagado, o que há algumas horas antes, eu sentia a liberdade invadindo as veias do meu corpo.
Em um determinado minuto eu estava ficando excitado. Em outro minuto, eu estava… Vazio.
C. Carlyle Lyra
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