Alguns episódios atrás em O Menino de Olhos Verdes…
― Ei… Arthur… aquele dia… quando o Rafa fez aquela brincadeira… ― Eu disse e ele fechou a cara na hora.
― Ah… sim… o que tem?
― Quer conversar a respeito? ― Perguntei.
― Não tem o que conversar… eu só nunca fiquei com ninguém, o que tem de errado nisso? Qual o problema de vocês, para ficarem insistindo nesse assunto?
― Ei… calma… relaxa… não é disso que estou falando…
― Ah… é sobre o que então?
― Aquele dia, você disse que… já tinha pedido para alguém…
― Aff… não quero falar sobre isso.
― Você quem sabe… mas, se quiser, estou aqui pra ouvir, tá?
― Valeu, mas não.
― Eu a conhecia?
― Olhos Verdes.
― É do Nova Aliança? Só me fala isso.
― É! Mas não quero falar sobre isso.
― Essa pessoa é da sua sala?
― Não! ― Ele respondeu na defensiva. ― Tá… ela é…
― Menino ou menina?
― Aff… menina! Eu já disse que meu lance é com meninas, Lucas.
― Do sétimo… menina… é a Giovanna? ― Eu chutei.
― Não! ― Ele tentou mentir.
― Caralho, Arthur… tú já pediu pra ficar com a Gi?
Nessa hora, o Arthur ficou super vermelho.
― Não! Claro que não! ― Ele disse na defensiva.
― Caralho… é que ela nunca me disse isso… e olha que ela sabe que somos amigos…
― É porque eu não tenho nenhuma importância na vida dela. ― Ele disse triste. ― Nem deve se lembrar do meu nome.
― Nossa… fiquei mal agora… ― eu disse.
― Aff… relaxa… não tem motivos para se preocupar.
― Claro que tenho! Você é meu amigo! Vou falar com ela.
― NÃO! ― Ele exclamou. ― POR FAVOR! NÃO FAÇA ISSO!
― Então me conta como foi. ― Eu pedi.
Ele ficou meio na dúvida sobre o que fazer, mas resolveu desabafar.
― Foi na metade do semestre. Mais ou menos no começo de setembro… na festa de aniversário da Julia. Eu já tinha falado com a Giovanna algumas vezes… mas foi nessa festa que eu resolvi tomar atitude e ir falar com ela de vez… e me declarar…
― Eita… você já se declarou pra ela?
― Não… não foi bem uma declaração… quer dizer… eu não disse tudo que sentia por ela… na festa, ela sempre estava com as amigas e tal… então era impossível ir lá falar com ela a sós. Mas, uma hora, ela foi pegar uma bebida e eu nem sei como criei coragem para ir falar com ela, mas fui. Aí foi tudo muito rápido. Eu disse que fazia um tempinho que eu já vinha reparando nela… disse que achava ela muito bonita e tal… ela se mostrou meio receosa e agradeceu o carinho… mas só falou isso… não disse mais nada… aí, eu, sem saber o que fazer, perguntei se
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ela queria ficar comigo… aí ela disse que eu era um fofo, pediu desculpas e disse que não estava com cabeça para ficar com ninguém. E foi isso. Aí ela virou as costas e foi embora. Mas eu não disse tudo… eu não disse dez por cento do que eu sentia… eu não disse que estava apaixonado por ela… eu não disse que pensava nela o tempo todo… eu não disse que achava que amava ela… depois que eu tomei um não bem grande na cara, eu fiquei muito mal. Não queria mais ficar na festa… daí fui embora.
― Nossa, Arthur… eu sinto muito… não sabia…
― Daí você imagina meu choque quando você começou a ser o melhor amigo dela.
― Desculpa…
― Não… eu sei que você é só amigo dela e que não tem segundas intenções… só não conta tudo isso que eu acabei de te contar pra ela. Por favor, Lucas, nunca te pedi nada!
― Relaxa… não vou contar.
― Valeu…
― Mas eu posso tentar descobrir o que ela acha de você.
― Não sei… desde que você não diga nada disso que eu falei… acho que pode ser…
― Não vou falar nada pra ela, relaxa… vou só ver o que ela acha…
― Tá… obrigado.
― Mas… e se ela não gostar de você… você vai querer saber mesmo assim?
― Sim.
― Tem certeza? Mesmo se doer?
― Sim. Quero.
― Tá… vou conversar com ela.
― Viu… doeu desabafar?
― Não… ― ele disse tímido.
― Faz bem conversar, Arthur… você precisa parar de ter medo das outras pessoas…
― Não tenho medo.
― Tá… mas não fique com vergonha de se abrir… tá? Eu me sinto muito mais seu amigo agora. Não sentiu o mesmo?
― Sei lá… ― ele respondeu olhando para baixo.
― O bolo está muito gostoso. ― Eu disse para tentar quebrar o clima. Ele sorriu.
― Foi bom conversar com você, Lu. ― Ele disse baixinho.
Episódio 53
O Leão e o Cordeiro
E tinha sido bom mesmo. Se eu soubesse que era tão bom compartilhar um segredo, talvez eu tivesse compartilhado com ele antes. Pela primeira vez na vida, senti que não estava mais carregando o peso da minha intimidade sozinho.
Fazia muito tempo que eu não me sentia leve assim. Acho que desde quando eu comecei a entrar na puberdade que meus sentimentos e minhas emoções não me deram paz. Eu odiava a minha condição de adolescente. Desde o dia em que eu comecei a secretamente reparar as garotas, minha vida tinha se tornado infinitamente mais difícil. Era a única fraqueza cuja a qual eu não conseguia controlar. E, se teve algo que meu pai me ensinou nessa vida, foi que não podemos ter pontos fracos. Bem plausível esperar que um militar se preocupe tanto em ensinar isso para um filho. Mas, com todo respeito, pai, resistir às garotas estava sendo pedir demais.
Não havia nenhuma outra coisa no mundo que eu odiava e adorava ao mesmo tempo tanto quanto estar apaixonado. E, poder finalmente compartilhar esse segredo com alguém, estava sendo realmente uma experiência sensacional.
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Somente agora eu estava começando a entender o que se passava por detrás daqueles enigmáticos olhos verdes. Lucas, com certeza, sabia o que eu sentiria quando eu me abrisse com ele. Ele sabia que seria bom para mim. E sabia que seria tão bom quanto foi. Talvez tivesse sido isso que o motivara a insistir.
Se ele sabia que sua insistência daria em algo? Talvez sim, talvez não. Provavelmente sim… Lucas jogava em outro nível. Eu sempre tentava prever o que ele estava tramando, mas parecia que ele sempre estava a três ou quatro passos na minha frente. E, se fosse qualquer outra pessoa, acho que me deixaria bastante frustrado… mas ele não. Eu não ficava frustrado quando me deixava vencer por ele. Confesso que… eu até gostava… eu gostava quando ele me surpreendia com alguma de suas atitudes. Eu gostava quando ele fazia coisas que eu nunca imaginaria que ele fosse fazer… eu gostava de quando ele se comportava de maneira imprevisível… não sei explicar bem o que eu sentia por ele, mas… era mais uma mistura de admiração e rivalidade…
Eu digo rivalidade, porque… era como se nós dois sempre tentássemos prever o que o outro estivesse pensando, e… era uma disputa interminável… e, por mais que fosse uma disputa, parecia que eu sentia mais prazer perdendo, quando eu era previsto por ele, que ganhando, quando eu conseguia prevê-lo…
Lucas era especial. Só podia ser. Era a única explicação. Ele era um menino notavelmente extraordinário. Incomum. Individual. Invulgar. Específico e próprio. Ele não era raro, era único. Talvez um acidente do destino. O sui generis de sua raça. Raça, cuja a qual ele era o mais puro pedigree. Nascido da tormenta e do acaso, cujo crescimento se deu sob as mais obscuras luas de um habitat nada inóspito. E, ainda sim, com sua simplicidade, conseguia deixar até a mais linda flor com inveja de sua meiguice. Sua melódica e harmoniosa voz era capaz de adoçar até açúcar. Felizes eram aqueles que tinham sua amizade. Um verdadeiro amigo para se contar. Alguém que só quer o teu bem, acima de tudo.
Imprudente? Algumas vezes. Mas sempre se descuidando como criança. Tudo numa inconsequência calculada. Alguém que mente solidariamente por ti e para ti e que sabe esconder a verdade, sem derramar uma lágrima, até que a hora certa de se abrir o jogo chegue. E que sofre contigo, se necessário, debaixo da cachoeira de impetuosas verdades.
Lucas é o tipo de pessoa que não esconde suas fraquezas. Não esconde porque não precisa. Sua transparência atraí quantos amigos forem necessários para defendê-lo quando preciso. Ele sabe que não precisa se esconder atrás de mentiras, pois sempre terá alguém para segurar sua mão. Algo naqueles olhos verdes… místicos e enigmáticos olhos verdes…
Lucas, dentre nós três (Eu, ele e Rafael), era o que tinha, inegavelmente, a vida mais complicada. Ele era, aparentemente, o mais pobre de nós. Tinha tido problemas sérios com seus pais quando resolveu assumir sua orientação sexual, sendo, inclusive, responsável pelo divórcio dos pais. Sofria bullying por todos os lados na escola. Claro que, boa parte do que eu ouvia pelos corredores da Nova Aliança, eu nem fazia questão de contar pra ele… porque eu deixaria os dias dele mais tristes com os comentários maldosos e ignorantes dos outros meninos? Não tinha porquê.
Mas, como eu estava dizendo, sua vida era incrivelmente mais complicada que a minha… e, ainda assim, ser ele parecia ser tão mais fácil. Como ele conseguia sorrir tanto mesmo tendo uma vida tão desgraçada desse jeito? Eu até me sentia mal quando pensava em como minha vida era ridícula perto da dele…
Que problemas eu tinha? Que dificuldades eu tinha? Gostar de uma garota? Isso era problema aonde, Arthur? Lucas realmente estava anos luz na minha frente. Tanto em maturidade quanto em inteligência. Mas ele era humilde demais para admitir isso.
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E agora eu estava ajudando ele a estudar. Estranhamente, eu estava gostando disso. Era legal fazer uma coisa que nós dois gostávamos. Ele se divertia estudando. Eu me divertia estudando. Minhas tardes estavam… estranhamente mais agradáveis… diferente das minhas noites… que continuavam as mesmas…
Toda noite, antes de dormir, eu perdia pelo menos uns quarenta minutos pensando na vida. Na escola, nos estudos, mas… principalmente na Giovanna. Pensando em como seria legal ficar com ela… em como seria legal namorá-la… como seria legal ser amigo dela… e esse tipo de coisa… enfim… nada que eu tivesse o direito de reclamar.
Essa noite, como todas as outras, tive dificuldades para pegar no sono. Mas nada que eu não tivesse acostumado.
* * *
Já no dia seguinte, depois que a aula terminou, fui até o portão de saída da escola para esperar o Olhos Verdes e o Terráqueo. Tínhamos combinado de estudar biologia hoje de novo… só que hoje Lucas invocou que queria levar o Rafael junto… na minha opinião, essa era uma péssima ideia. Duvido que o Lucas sabia o quão retardado e idiota ele ficava perto do Rafael. Parecia que ele virava uma manteiga derretida. Era certo que isso ia atrapalhar nossos planos de estudo.
Mas, eu estava com a consciência limpa. Notas boas eu tinha. Saber biologia eu sabia. Se alguém sairia perdendo no final dessa história, esse alguém era o próprio Lucas. Não que eu não me importasse com isso… na verdade, eu me importava com suas notas até mais do que devia… mas, talvez, se ele tirasse mais uma nota baixa por causa de namoro, só que dessa vez numa prova em que ele realmente precisasse, talvez isso o ajudasse a cair na real.
― Oi, Arthur! ― Ouvi alguém me chamar.
Olhei para trás e avistei os dois… Lucas e Rafael… como sempre, a primeira coisa que vi foram seus dois olhos verdes. Motivo pelo qual eu sempre o chamava assim. Era impossível não reparar naqueles olhos. E era impossível não reparar neles antes de tudo. Eles eram sua identidade. Fonte de toda sua personalidade.
Lucas, embora mais novo, era alguns dois centímetros mais alto que eu. Atualmente estava com o cabelo relativamente curto. Digo relativamente porque desde que eu o conhecera, ele sempre optou por usar aquela franjinha característica dele. Agora que a pior fase de sua vida parecia estar passando, ele estava deixando seu cabelo crescer novamente e, junto com ele, sua integridade. Ele tinha passado por momentos difíceis em casa. Disso ninguém podia duvidar. Mas ele era forte, eu sabia que ele era capaz de superar isso.
Seu cabelo, atualmente, estava “penteado” para frente formando um topetinho delicado e bem arrumado. Digo penteado entre aspas porque a essa hora do dia, seu cabelo já estava todo bagunçado. Não bastasse o próprio Lucas não parar de mexer nele para tentar sempre deixá-lo bonito, ainda tinha o Rafael, que, sendo um grude do jeito que era, também não parava de mexer no cabelo do namorado.
Lucas tinha o cabelo castanho escuro, mas a cor de seu cabelo estava cada vez mais próxima de preto, conforme sua idade avançava. Ele era magro, eu diria até que ele estava em forma. Embora ele fosse mais alto que eu, ainda era considerado baixinho e miúdo, sendo mais baixo que o Rafa. Sua pele era branca rosada, mas, dependendo da luz do ambiente, chegava a ser morena clara. Rafael era mais branco que ele… seu tom de branco combinava com o loiro de seus cabelos.
Seus lábios eram finos e viviam se dobrando num tique que, para ele, era imperceptível. Pra falar a verdade, ele sempre ficava mexendo a boca de maneira engraçada, principalmente
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quando ficava muito concentrado… estudando, por exemplo. Como eu já havia dito, sua voz era melodiosa e harmônica. E sua risada tão graciosa quanto. Sua voz era fina e combinava com seu porte e aparência.
Sempre bem vestido e com as unhas bem cortadas, Lucas era o tipo de garoto que sabia se cuidar. Talvez ele fosse assim por causa do Rafa… afinal, namorar não devia ser fácil… ter sempre que estar em sua melhor aparência para seu parceiro… mas, sua maior motivação devia ser o Rafael mesmo… precisamente.
Se Lucas gostasse de meninas, provavelmente namoraria quem quisesse. Não que ele fosse o menino mais bonito da Nova Aliança, pois, antes de tudo, tinha o Rafa como concorrência, mas, pela sua personalidade, ele com certeza pegaria qualquer uma dali. Sua personalidade era apaixonante… erm… é… tá… tudo bem… Lucas apaixonante? É… acho que já fomos longe demais… vamos parar por aqui, né? Sou Arthur… gosto da Giovanna… gosto de meninas… foco!
― Ah… oi, Olhos Verdes… e… Rafael… ― eu os cumprimentei.
― Qual é, Arthur! ― Rafa disse.
E, por falar em Rafa, esse era uma ameaça para todos… Rafael é o perigo encarnado em pessoa. Nunca vi menino mais perigoso. Não que ele fosse uma pessoa ruim, nem nada do tipo, mas… ele era um príncipe que tinha o mundo a seus pés. Bem, era exatamente isso que eu estava tentando dizer… ele era perigoso, mas não que ele soubesse disso. Você realmente acha que alguém que tem tudo o que quer não é perigoso?
Mas, o que eu mais temia era o que ele era capaz de fazer com o Lucas. Não sei se ele sabia o quanto ele influenciava o Lucas. Provavelmente não… ingênuo demais para isso, mas… às vezes parecia que ele tinha Lucas a seus pés… e eu não gostava disso. Eu sentia que Lucas faria qualquer coisa por ele, e ele talvez não tivesse maturidade para entender o tamanho dessa responsabilidade. Será mesmo que Rafa sabia o que Lucas era capaz de fazer por ele? Será que ele sabia controlar isso? Será que ele respeitava Lucas o suficiente para não abusar dessa condição? Eu tinha medo que ele usasse o Lucas, para qualquer fim que fosse. Ou que abusasse de sua boa índole. Lucas não era bobo, muito menos ingênuo… mas perto do Rafa, bobo era pouco para descrever tamanha estupidez.
Não que eu tivesse nada contra ele, muito pelo contrário, o Terráqueo era legal. Mas eu sempre ficava com um olho aberto perto dele. Era como se ele fosse um leão, e Lucas fosse apenas um cordeiro. E eu, no final da história, talvez fosse o próprio homem. Um ser humano, capaz de domar o leão com sua inteligência, mas, ao estalar do primeiro descuido, perde a vida numa dentada selvagem para o felino inconsequente. Leão imprevisível. Cordeiro inocente. Humano observador e cuidadoso.
Rafael era um garoto desejado por todos. Tinha ouro, tinha família, tinha fama, tinha amigos e tinha qualquer coisa que quisesse. Era dono de todos os olhos, que o secavam e alimentavam seu ego nada pequeno.
Eu não tinha inveja dele, nem ciúmes, se é o que você está pensando. Mesmo porque, se fosse pra invejar alguém, eu invejaria Lucas, e não Rafa. Não sei como os dois deram tão certo juntos. Possuem personalidades tão diferentes. Mas… é como o bom e velho eletromagnetismo já dizia… opostos se atraem… seja lá o que isso signifique. Mas, querendo ou não, os dois se fazem bem. Um faz bem para o outro. Imagino o que seria Lucas, sem seu porto seguro, Rafael. E também imagino Rafael, sem um exemplo de bondade, como Lucas. Os dois estariam bem piores. Lucas, sem Rafa, provavelmente estaria em ruínas. Rafa, sem Lucas, provavelmente estaria no auge da arrogância. E eu, sem ninguém, estou como estou. E estou muito bem, obrigado.
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Mas eu também podia compreender o lado de Lucas. Em como ele era totalmente submisso a Rafa. Eu não podia dizer nada, porque… assim como Rafa tinha muita influência nas ações de Lucas, Lucas tinha muita influência nas minhas ações. Quantas vezes não fiz algo pensando: O que Lucas faria se estivesse no meu Lugar? E, coincidência ou não, sempre quando eu agi em nome dele, coisas boas aconteceram. Só que eu nunca tinha dito nada disso para ele… e nem tinha como… eu, particularmente, não tinha coragem de olhar na cara dele, no fundo daqueles olhos verdes, e dizer tudo isso que eu acabei de lhes dizer. Por isso que eu preferia manter distância. Uma distância em que eu me sentia suficientemente confortável.
― Então, sua mãe vai poder vir buscar a gente aqui? ― Lucas perguntou.
― Vai sim… ela já deve estar chegando… ― eu disse.
Ela não deveria demorar. A essa hora, já devia ter saído do serviço. Provavelmente já estava a caminho.
― Tá… ― Lucas disse.
Daí nós três ficamos lado a lado na calçada olhando para a rua… esperando minha mãe.
― Então… ― Rafa disse. ― Ciência, hein? Vocês já estão muito longe na matéria.
― Pior que sim… ― Lucas disse. ― Estamos quase acabando… se eu não me engano, falta só um capítulo do livro…
― Hum… e a matéria tá fácil? ― Rafa perguntou.
― Está sim… ― Lucas respondeu.
Daí nós continuamos esperando minha mãe até ela chegar. Ela nos pegou na porta da escola e nos levou até minha casa. Como sempre, ela não ficou para o almoço, pois tinha que voltar para o trabalho, mas deixou comida pronta pra gente. Comemos e, logo em seguida, já fomos para meu quarto, para estudar.
Quando chegamos no meu quarto, Rafael já foi fuçando nas minhas coisas. Eu odiava isso, pois… conhecem aquela expressão? “Quem deve, teme”? Ou alguma coisa próxima disso… pois é… sim… tinha coisas no meu quarto que eu não gostaria que ninguém visse… principalmente Rafael… mas ainda bem que ele se contentou achando um dos meus cubos mágicos.
― Nossa, você também sabe montar esses cubos? ― Ele me perguntou.
― Sei sim. Não são difíceis… se você souber montar o 3×3…
― Ah, não são difíceis não… aham… sei… olha pra isso! ― Rafa disse enquanto pegava meu cubo 5×5 da prateleira. ― Isso é impossível!
― Não é não! ― Eu disse. ― Se quiser, eu te ensino.
― Você sabe montar esse, Lu? ― Rafa perguntou para Lucas.
― Eu já montei uma vez… mas não lembro os algoritmos de cabeça… ― ele disse. ― De cabeça só consigo montar o 3×3 mesmo…
― Maneiro! Em quanto tempo você monta, Arthur? ― Ele perguntou.
― Ah… esse 5×5 eu demoro uns dez minutos…
― Posso embaralhar pra você montar? ― Ele perguntou.
― Pode… embaralha aí! Vou pegando o livro de ciências. ― Eu disse tentando focar nosso estudo.
Eu sentei na escrivaninha com o Lucas e terminamos de fechar a matéria. Faltava pouca coisa, então demoramos mais ou menos trinta minutos. Enquanto isso, Rafa ficou deitado na minha cama tentando montar um dos cubos. Enfim… terminamos de estudar tudo e agora só faltava revisar.
― Eiii!!! ― Rafa exclamou empolgado. ― Consegui montar um lado! ― Ele disse todo feliz.
Ele se levantou da cama e veio mostrar pra gente.
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― Olha só! Montei o lado azul! ― Ele disse entregando o cubo para mim.
― Muito bom… ― eu disse. ― Agora só precisa montar os outros cinco lados. ― Eu zoei ele.
― Que isso! Eu demorei meia hora pra montar um lado só! E é impossível montar os outros cinco sem desmontar esse daqui!
― Mas você devia começar pelo 3×3, ao invés de começar pelo 5×5, seu idiota! ― Eu encorajei ele.
― Tá, termina de montar esse daqui, pra eu ver! ― Rafa pediu.
― Mas você começou montando errado… primeiro você tem que montar todos os centros, depois todas as arestas e, só depois, você monta o cubo inteiro… entendeu?
― Sim… ― Rafa respondeu.
― Sério? ― Perguntei.
― Não! Só monta! ― Ele disse me entregando o cubo.
― Aff… não vou montar isso agora não! E você começou pelo lado azul… eu sempre começo pelo branco… e estamos estudando! ― Respondi.
― Mas vocês não disseram que tinham terminado? ― Ele perguntou.
― Sim! Mas ainda temos que revisar! ― Expliquei.
― Aff… ah não… vamos fazer alguma coisa legal… ― ele pediu.
― Estudar é legal! ― Tentei convencer ele.
― Você não tem nenhum jogo aí? ― Rafa perguntou.
― Não! Meu vídeo game quebrou. Só tenho no computador, mas tá desligado. E temos que terminar de revisar! ― Tentei argumentar.
― Ah não, gente… e jogo de tabuleiro… você tem?
― Não.
― E o que é isso daqui? ― Rafa disse enquanto pegava meu xadrez na minha estante.
― Ei! Para de fuçar aí! É meu xadrez!
― Ah! Vamos jogar! ― Ele pediu rindo. Pelo menos alguém estava se divertindo…
― Lucas! Dá um jeito no teu namorado! ― Pedi para o Lucas já começando a ficar revoltado.
― Desculpa! ― Ele pediu. ― Fefél… para de fuçar nas coisas do Arthur e sossega!
Eu sabia que isso ia acontecer. Trazer o Rafael era uma péssima ideia. E Lucas parecia estar percebendo isso agora.
― Vamos jogar alguma coisa! ― Rafa implorou. ― Estou entediado! Vai! Vocês já estudaram bastante! Vocês têm que fazer uma pausa! Não é saudável estudar tudo de uma vez! Vai! Lu! Arthur! Vamos! Por favor! Vai! Vamos jogar alguma coisa!
― Lucas! ― Reclamei com o Lucas.
― O que foi? Não é culpa minha!
Rá rá… até parece.
― Vai! Vamos brincar de alguma coisa! Depois a gente termina de estudar! ― Rafa pediu uma última vez.
Nisso, vi uma oportunidade de poder jogar xadrez com Lucas. Fazia tempo que eu queria jogar contra ele, mas ele sempre acabava me enrolando. Tá aí uma oportunidade…
― Aff… foda-se! Tá bom! Eu jogo, mas o Lucas tem que jogar uma partida de xadrez comigo. ― Eu pedi.
― Uuuuuu! ― Rafa gritou. ― Senti uma treta!
― Já disse que não vou jogar xadrez com você, Arthur. ― Ele se recusou. ― Se for depender disso, vamos logo voltar aos estudos…
― Por que, Lu? ― Rafa perguntou.
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― Porque todos sabemos que o Arthur vai ganhar. Ele é mais inteligente.
Talvez sim. Talvez não. Só jogando pra saber…
― Só dá pra saber jogando… ― Tentei argumentar logicamente.
― Vai! Joga com ele, Lu! Quero ver quem vai ganhar dos dois! ― Rafa disse. ― Vai ser legal.
― Nem! Tenho mais coisas pra fazer! ― Ele se recusou novamente.
― Vocês podem até apostar alguma coisa! ― Rafa disse. ― Podem jogar valendo o título de deus supremo do xadrez e mantenedor de toda inteligência universal paradisíaca do mundo!
Comecei a rir. Rafael falava cada coisa sem nexo… mas até que a proposta era interessante…
― É, Olhos Verdes… tá com medinho de apostar? ― Desafiei ele.
― Você sabe que não, Arthur… ― ele se defendeu.
― Então vamos jogar! ― Pedi.
― Aff… tá… foda-se! ― Ele aceitou. ― Eu jogo.
― Yes! ― Rafa comemorou. ― Isso vai ser divertido.
Levei nós três para a sala de jantar da minha casa e montamos o jogo na mesinha que tinha lá cercada por quatro cadeiras. Botamos o tabuleiro de xadrez no meio e montamos as pecinhas na disposição correta. Eu me sentei em uma das cadeiras e o Lucas se sentou na diametralmente oposta. O Rafa virou uma das cadeiras e se sentou de frente para o encosto, apoiando os cotovelos nele.
Eu tinha ficado do lado das peças pretas e o Lucas do das brancas.
― Vocês já sabem o que vão apostar? ― Rafa perguntou.
Pensei um pouquinho e achei que seria legal fazer o Lucas sofrer um pouquinho.
― Já. E você? ― Eu disse e olhei para ele.
― Ainda não. O que você quer apostar? ― Ele perguntou.
― Se eu ganhar, você vai ter que deixar eu jogar um balde de água fria com gelo em você!
O Rafa começou a rir.
― Fechado. ― Lucas disse. ― Um prêmio justo.
― E se você ganhar, o que você vai querer? ― Perguntei.
― Não sei… ― ele disse. ― Deixa eu pensar.
― Eu tenho uma ideia. ― O Rafa disse.
― Que ideia? ― Perguntei preocupado. Vindo do Rafa, coisa boa não podia ser.
― Se o Lucas ganhar, você vai ter que dar um beijo nele! ― Nessa hora, nós começamos a rir. Isso era um absurdo. ― Na boca! ― Agora eu tinha sentido meu coração bater mais forte. ― De língua! ― E agora eu com certeza estava nervoso.
Não sei porquê, mas comecei a rir. Que porra era essa que estava acontecendo? O Rafa realmente estava sugerindo isso? E o Lucas realmente estava considerando aceitar isso? Eu senti que estava perdendo o controle quando minhas mãos começaram a tremer sem a minha permissão. Do nada, foi me dando um nó na barriga e eu fui sentindo meu estômago ficando embrulhado e minha pressão caindo.
― Tá maluco, Rafael? ― Eu disse. ― Não vamos apostar isso!
― É, Rafa… não vamos apostar isso! ― Lucas concordou comigo.
― Tá com medinho, Arthur? ― Rafa me provocou.
― Não, claro que não. ― Menti. Até porque eu não tinha certeza que era capaz de derrotar Lucas no xadrez.
― Então aposta. ― Rafa me desafiou mais uma vez.
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Eu não sabia o que fazer. Daí olhei para o Lucas, para tentar entender o que ele estava pensando. Sem conseguir muito com isso, eu disse:
― Tá, mas se for pra apostar isso, quero mudar minha aposta, então…
― Diz aí… ― Rafa disse.
― Se eu ganhar, Lucas… você vai ter que me ajeitar a… ah, você sabe quem.
Eu ia dizer o nome da Giovanna, mas me lembrei que Rafa não sabia sobre ela… então… acabei percebendo que tinha feito merdinha.
― Ajeitar quem!? ― Rafa perguntou curioso.
Ah lá! Não disse? Eu tinha feito merdinha! Não queria que o Rafa soubesse sobre ela, mas acabei me expondo sem querer.
― A Gi? ― Lucas me perguntou.
― Sim… ― confessei.
― Você tá a fim da Gi, Arthur? ― Rafa perguntou surpreso.
Droga. Eu sabia que ele ia reagir assim. Fazendo o maior drama! Fiquei sem graça, daí tentei só ignorá-lo.
― Tá… posso tentar… ― Lucas concordou.
― Tentar não… você vai ter que me ajeitar ela. Como? Aí já é problema seu. ― Tentei me impor. ― Estamos apostando alto, não estamos? ― Na verdade, eu estava com tanto medo do que estava para acontecer que eu nem sabia mais o que eu estava falando. Eu estava começando a ficar perdido.
― Então é isso? ― Rafa perguntou. ― Se você ganhar, Arthur, o Lucas vai te arrumar a Giovanna… e, se você ganhar, Lu, o Arthur vai ter que te dar um beijo de língua? Todos de acordo?
― Foda-se. Pode ser. ― Lucas disse.
― De acordo… ― Eu concordei.
E não sei como concordei com isso. Meu deus! Que porra eu havia acabado de fazer? Eu tinha acabado de apostar um beijo com o Lucas. Tentei respirar fundo algumas vezes para disfarçar o nervosismo, mas acho que estava sendo inútil. Lucas também estava nervoso, isso era perceptível. Tínhamos subido tanto as apostas que isso não era mais um jogo qualquer… pelo nosso nervosismo, parecia que tínhamos apostado nossas próprias vidas.
No próximo segundo, parece que o tempo parou. Tudo começou a passar mais devagar… e mais devagar… e mais devagar… até parar. Eu estava tão concentrado e focado em mim mesmo que parece que tudo que estava a minha volta tinha simplesmente congelado no tempo. A primeira coisa que fiz, foi tentar entender o que eu tinha acabado de fazer. Porque diabos eu tinha apostado um beijo com o Lucas? E, não importa para onde eu olhava, eu só conseguia ver uma resposta. Então por que era tão difícil admitir? Por que era tão difícil admitir para mim mesmo que eu queria?
Não sei explicar bem o que eu sentia pelo Lucas… e muito menos explicar o que eu estava sentindo agora, mas… eu acho que eu… eu acho que eu… queria? Por que eu iria querer beijá-lo? Eu estava tão confuso que… ao mesmo tempo que eu queria, eu não queria, mas… meu deus… o que é que estava acontecendo?
Muita coisa surgiu na minha cabeça nesse instante. Meu pensamento estava sobrecarregado. Eu estava muito nervoso. Era como se eu tivesse tido uma descarga de adrenalina… e, a partir daí, tudo aconteceu muito rápido.
― Peão na G4. ― Ele começou fazendo a primeira jogada, pois era as peças brancas.
― Peão na E5. ― Fiz minha jogada.
― Cavalo na F3.
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E assim o jogo continuou. E que jogo… nunca tinha apostado tão alto na minha vida… e, por conta disso, nenhum de nós estava se permitindo cometer erros. Estava bem empatado até a metade do jogo. Eu tinha perdido três peças e o Lucas quatro. Foi quando o Rafa começou a… seja lá o que for isso…
― Você vai gostar de beijá-lo, Arthur…
Na verdade, eu sabia bem o que ele estava fazendo… ele estava tentando me distrair. Eu não disse que ele era perigoso? A questão que fica é… será que o Rafael estava sendo impulsivo ou será que ele sempre tivera tudo isso planejado? Será que ele era apenas um agente causador do caos ou será que desde o momento em que ele pegou meu cubo mágico na prateleira do meu quarto e avistou meu tabuleiro de xadrez, ele já começou a bolar todo um plano diabólico para me fazer beijar o Lucas? Será que ele era inteligente assim? Será que ele só se passava de ingênuo, quando na verdade era um gênio disfarçado? Será que ele estava sendo mesmo capaz de me fisgar assim? Se tudo isso fosse verdade, eu ficaria assustado. Até onde Rafael Mackenzie era capaz de ir para conseguir o que queria? E, se tudo fosse um plano dele, por que diabos ele ia querer que eu beijasse seu namorado? Isso não fazia o menor sentido! Será que ele queria que Lucas me beijasse para que Lucas tivesse mais uma experiência? Será que ele queria que eu beijasse o Lucas só para perder o BV? Ou será que ele queria que nós nos beijássemos pelo seu único e exclusivo prazer? O que o motivava a fazer isso? O que ele tinha na cabeça? O que esse garoto pensava? Eu não conseguia ver se ele jogava pelo Lucas, por mim ou por si mesmo. De uma hora para outra, Rafael tinha se tornado não só o mais interessante da sala, mas como também o mais inteligente. Eu não esperava por essa.
― Aff, dá um tempo Rafael, bispo na F5, perdeu seu outro cavalo, Olhos Verdes…
― Eu gosto, pelo menos… acho que você vai gostar também… ― ele disse.
Droga. Rafael sabia o que estava fazendo. Eu sabia o que ele estava fazendo. E Lucas sabia o que ele estava fazendo, mas, mesmo assim, suas palavras continuavam a me atingir com força. Eu sabia que estava sendo fisgado como um peixinho no mar e ainda sim eu parecia não me importar em morder a isca. Droga! Eu estava perdendo o controle.
― Peão na F5… perdeu seu bispo, Arthur… ― Lucas disse.
― No começo, você vai estranhar a língua, mas depois que você se acostumar, você vai ver que é bom…
Quando ele disse isso, discretamente, olhei para a boca do Lucas e imaginei como seria tocá-la com meus próprios lábios. Pela primeira vez, tive vontade de beijá-lo… pra saber como é… e, para fazer isso acontecer, era muito fácil. Era só perder. Por um momento, cogitei deixá-lo ganhar de propósito, só para botar a culpa de ter que beijá-lo no Rafa… seria perfeito! Eu o beijaria e poderia dizer que foi forçado.
― Valeu o sacrifício… torre na C4.
― O Lucas beija bem… é claro que ele aprendeu comigo, mas ainda sim conta…
Nessa hora, foi a vez de meus olhos procurarem a boca do Rafael. Discretamente, observei seus lábios se moverem enquanto ele os lambia sensualmente.
― Peão na C4… resolveu jogar sua torre fora, Arthur?
Quando percebi a merda que havia feito com minha torre, resolvi me concentrar mais no jogo. Os dois estavam tirando minha atenção. Eu não sabia mais o que fazer… eu estava tão desconcentrado que estava começando a ficar perdido. Para falar a verdade, era evidente que eu estava perdendo no xadrez.
O pior era que, sinceramente, eu ainda estava com dúvidas se devia beijar Lucas ou não. Neste instante, eu queria, mas talvez daqui a um minuto eu poderia mudar de ideia, uma vez que eu ainda não tinha parado para pensar nas consequências que um beijo traria para todos
― ―
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nós. Mas, agora que eu estava perdendo, fiquei com medo, pois… se eu desistisse de beijá-lo, não sei se ainda seria possível ganhar dele para evitar de ter que pagar a aposta.
― Cavalo na C4. ― Joguei. ― Perdeu seu peão.
― De todas as pessoas que eu beijei, a que mais beija bem é o Lucas.
Droga! Eu não podia beijá-lo! Por mais que eu quisesse, eu tinha que resistir! Pelo bem todos, era a melhor coisa a se fazer. Tampei meus ouvidos mentalmente e me concentrei no jogo. Eu tinha que ganhar.
― Torre na A4. ― Lucas jogou.
― O beijo dele é bem gostoso.
― Rainha na A4, perdeu sua torre, Olhos Verdes!
Pela primeira vez tive uma vantagem sobre Lucas.
― Mas a melhor coisa é beijar no escuro… não tem nada melhor que isso…
― Ah, perdi? Bispo na A4… estou jogando contra o Arthur ou contra um amador? Trocou sua rainha por uma torre, Arthur? Ah… é mesmo… e quase me esqueci… xeque.
Droga! Eu estava em xeque. Espera! Não por muito tempo!
― Rei na D8. ― Me esquivei do xeque.
― Peão na H4.
Parece que Lucas tinha ficado com excesso de confiança, porque agora ele parecia mais desatento que nunca.
― Cavalo na F3. Xeque. ― Eu disse.
― Nóóóó, Lu! Vai deixar ele te dar um xeque assim? ― Rafa botou lenha na fogueira.
― Rei na F1. ― Lucas se esquivou.
― Torre na H2. ― Joguei.
Meu deus! Não acredito! Era minha chance de realizar um xeque-mate!
― Rainha na H5. ― Lucas jogou.
― Bispo na D3, Olhos Verdes… xeque. ― Eu disse novamente. Só que desta vez era…
― Rainha na…
― Você está em xeque. E não é qualquer xeque, Olhos Verdes. Xeque-Mate. Você perdeu.
Nessa hora, não me pergunte o porquê, mas eu me senti ao mesmo tempo aliviado e triste. Lucas começou a rir e eu entrei em estado de choque. Meu deus… que partida tinha sido essa? Eu estava completamente atordoado. Eu nunca tinha sentido tantas emoções ao mesmo tempo quanto tinha sentido agora. Jogar contra Lucas foi uma experiência de medo, ansiedade, aflição, expectativa e cautela. Tínhamos apostado alto demais para ser só um jogo…
Acredite ou não, nenhum de nós ganhou porque era melhor que o outro… Lucas apenas perdeu porque cometeu mais erros que eu, o que não necessariamente o faz ser pior que eu. Nosso jogo não avaliou o melhor, ao invés disso, avaliou o pior. Quem cometeu mais erros, e não o mais inteligente. Foi um jogo jogado com mais emoção que razão. Foi um jogo baseado no desespero. Para as duas partes. Querer beijá-lo eu queria, mas não era a coisa certa a se fazer. Eu não conseguia calcular as implicações que um beijo traria a nossa relação. Tanto na minha relação com ele, quanto na relação dele com Rafa, quanto na relação do Rafa comigo. Um beijo podia virar tudo isso de cabeça pra baixo.
O Rafa estava de boca aberta. Acho que ele também não esperava por essa… parece que pela primeira vez na vida o leão inconsequente via sua presa fugir de suas garras sedentas e famintas. Toma essa, Rafael, não é hoje que você vai fisgar esse peixe! Sou Arthur, se esqueceu? Seus planos não são nada perante minha genialidade.
Lucas ainda estava rindo igual um idiota. Talvez esta tivesse sido a melhor maneira que ele encontrou para reagir aos recentes acontecimentos.
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― Xeque-Mate. Você perdeu, Olhos Verdes. Aposta é aposta. ― Eu disse confiante.
Agora, mais que nunca, tentei disfarçar minha vontade de beijá-lo. Eu não podia expor meus sentimentos, não agora. Agora era a hora de me mostrar destemido, coeso e íntegro.
― Eita porra! ― Rafa exclamou.
― Tá… tudo bem… foda-se… vou falar com ela… ― ele respondeu.
Por um momento, parecia que Lucas estava falando Grego. Demorei alguns segundos para entender o que ele estava falando. Falar com ela? Falar com quem? Nossa! Meu deus! Eu tinha apostado que se eu ganhasse, ele teria que me ajeitar a Giovanna! Fiquei impressionado em como eu me esqueci disso durante o jogo todo. A única coisa que eu conseguia pensar era em nosso beijo. Em nenhum momento eu tinha me lembrado que estava apaixonado por aquela menina. Isso era, no mínimo, preocupante.
― É… acho bom mesmo… ― eu disse sem saber ao certo o que eu estava falando.
― Eu sabia que você ia ganhar, Arthur… sempre soube… você é mais inteligente que eu, seu bobo… só não queria acreditar… ― Lucas disse humildemente.
― Não fala isso… ― Eu disse. ― Um jogo não prova nada. ― Até porque não tínhamos jogado em nossos estados padrões. Tinha sido um jogo turbulento e agitado.
― Ah… não vem bancar o humilde agora não, Arthur! E é claro que um jogo não prova nada. Você vem provando que é mais inteligente que eu desde o dia em que nós nos conhecemos… feliz? ― Lucas me atacou.
― Mas esse jogo não conta! Nós dois estávamos nervosos. Jogamos com o emocional, e não com a razão. ― Argumentei.
― Então agora você tá dizendo que é mais controlado emocionalmente que eu? ― Ele disse nervoso. ― É isso?
― Ei! ― O Rafa interviu. ― Sem brigar.
― Não! Não tô dizendo nada! ― Tentei me justificar. ― Qual o seu problema? Ficou nervosinho só porque perdeu? ― Contra-ataquei.
― Nervosinho é a sua…
― Ei! Gente! Gente! ― Rafa tentou intervir novamente.
― Foi mal! ― Lucas se desculpou. ― Desculpa. Não vou esquentar minha cabeça por uma besteirinha dessas.
― Sem problemas… ― Eu disse.
Lucas cruzou os braços e olhou para o lado.
― Por que você estava nervoso, Arthur? ― Rafa me perguntou.
― Você ainda pergunta? ― Respondi.
― Vai dizer que você não queria? ― Rafa me provocou.
Será que estava tão evidente assim ou será que ele estava só blefando?
― Eu? Claro que não! Já disse que gosto de meninas! ― Me defendi.
― E daí? Isso te impede de dar um beijo no Lu? ― Ele argumentou.
― Não vou beijar ninguém. ― Me doeu dizer isso, mas era o certo a se fazer.
― Nem mesmo eu? ― Rafa perguntou rindo.
― Não, nem você. ― Ele, com certeza, era a última pessoa do planeta que eu gostaria de beijar.
― Ah… valeu a tentativa… ― Ele disse rindo. ― Mas você não está nenhum pouco curioso pra saber como é, Arthur?
É claro que eu estava! Mas não podia dizer! Mas perdi o controle e apenas disse:
― Sei lá!
― Não sabe o que?
― Nada, Rafael, dá um tempo! ― Tentei me esquivar da besteira que eu tinha feito.
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― Dá um beijinho no Lucas, Arthur, por favor! ― O Rafa pediu.
― Ei! ― Lucas exclamou.
― Já disse que não vou beijar ninguém! ― Respondi.
― Vai, Arthur… só um selinho… olha como ele quer! ― Rafa disse e apontou para o Lucas.
Foi inevitável olhar para a boca de Lucas. Ela parecia estar me atraindo como imãs.
― Ei! Não quero não! ― Lucas disse.
― Não. ― Eu disse e cruzei os braços.
― Aff… tá bom, você quem sabe, Arthur… se você quiser deixar para ir aprender a beijar na hora que for beijar a Giovanna, vai se dar mal… porque ela vai espalhar pra todo mundo que você beija mal.
― Tá tentando enganar quem, Rafael? ― Perguntei.
É claro que Rafa estava tentando me fisgar novamente. E eu não podia deixar isso acontecer.
― Ah é… quase me esqueci de que você é o deus supremo detentor de todo conhecimento universal paradisíaco do mundo… ― Rafa me provocou. ― É claro que ela vai espalhar sobre você para as outras garotas! Pergunta para o Lucas se ela nunca lhe contou nada sobre os meninos que ela já beijou!
Foi nessa hora que eu comecei a perder o controle. Rafa não parava de insistir e minha curiosidade só aumentava. Era evidente que Lucas estava disposto a me beijar. Era evidente que Rafael estava disposto a assistir. Pela primeira vez, percebi que beijá-lo ou não era uma decisão minha e apenas minha. Se eu quisesse, eu ia beijá-lo. Se eu não quisesse, eu não ia beijá-lo. Só dependia de mim, porque esses dois estavam dispostos a seguir em frente com isso. E, mais uma vez, fiquei na dúvida sobre o que fazer. Beijar ele ou não?
― Ela tem uma lista de todos os meninos que ela já pegou… em ordem alfabética, cronológica e em ordem de beijo mais gostoso… ― Lucas tentou me convencer. ― Você pode ser o primeiro lugar em duas dessas listas, Arthur… é só querer…
― Aff, vocês acham que eu nasci ontem? Vocês só estão falando isso pra eu beijar o Lucas. Repito: Isso não vai acontecer. ― Eu disse enquanto não tinha tomado minha decisão.
― Mas por que? ― O Rafa insistiu.
É… pensando bem… não tinha porquê não beijá-lo. Ninguém nunca ia saber disso, só os dois… e eu confiava nos dois… quer dizer, mesmo um sendo um leão e o outro sendo um cordeiro, eles ainda eram meus amigos… não é como se eles fossem sair espalhando por aí que eu tinha ficado com um menino… e, pensando por esse lado, eu não conseguia achar motivos para não beijá-lo. O único motivo era a vergonha. Mas por que ter vergonha deles? Eles não eram meus inimigos. Eles não queriam meu mal. Eles apenas queriam me mostrar como era bom ficar com outro menino. E talvez até fosse, mesmo eu sendo heterossexual… talvez não fosse o fim do mundo ficar com outro menino… e talvez era isso que eles estavam tentando me mostrar desesperadamente… não acredito que eu estava fazendo isso, mas… acho que eu tinha chegado a um veredito. Eu estava disposto a beijá-lo. Eu estava disposto a beijar Lucas.
Confesso que sair desse dilema foi a parte mais difícil… a partir do momento em que eu tinha decidido beijá-lo, traçar um plano de ação foi fácil… era só jogar o jogo do Rafael. Eu sabia exatamente o que falar para que Lucas entendesse que eu queria beijá-lo.
― Porque não! ― Respondi. ― Ele nem quer! ― E era exatamente isso que Lucas queria ouvir.
Nessa hora, ele e Rafa trocaram um olhar. Eu sabia o que esse olhar significava. Eles estavam dizendo entre si: Fisgamos. E, mesmo soando tão depreciativo assim, eu estava pouco me importando… eu só estava fazendo o que eu precisava fazer para beijá-lo.
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― Então se eu quisesse, você me beijava? ― Ele perguntou maliciosamente.
― O que? Não! ― Respondi na defensiva assim como era esperado por nós três.
Lucas se levantou da sua cadeira e veio até mim. Ele ficou parado em pé ao meu lado.
― Se eu quisesse… você me beijava? ― Ele perguntou.
― Não! Claro que não, porra! ― Respondi o que eu precisava responder.
― Por que eu quero muito. ― Ele disse. ― Desde a primeira vez que eu te vi. Eu quero muito te beijar.
Nessa hora, o nervosismo foi tomando conta de mim… meu deus… o que é que eu estava fazendo? Eu estava realmente jogando o jogo do Rafa… eu não acredito que eu ia ficar com o Lucas… nessa hora, tudo pareceu ser tudo um sonho… como assim? O que é que estava acontecendo? Por que eu estava perdendo o controle de mim mesmo e só queria saber do Lucas?
― Lucas, para de graça. ― Eu disse.
― Fica comigo? ― Ele pediu.
Daí ele colocou as duas mãos em meus ombros e pediu novamente:
― Hein, fica comigo?
Não respondi, apenas olhei para o Rafa. Para ver sua reação diante disso. Ele sorriu… é claro que ele sorriu… ele estava conseguindo, mais uma vez, o que queria… ele estava me conseguindo… ele estava fazendo de mim mais um de seus troféus para sua coleção…
E, do nada, o Lucas, que estava com as mãos nos meus ombros, se sentou no meu colo. Meu deus… de uma hora para outra, comecei a ficar excitado. Por que diabos isso estava acontecendo? Por que eu estava ficando excitado com o Lucas se sentando em meu colo? Era o Lucas! Suas mãos estavam tremendo tanto quanto as minhas. Nossos rostos estavam a um palmo de distância. Parecia que meu coração ia saltar pela boca. Ele estava batendo muito forte e muito rápido. Eu nunca tinha me sentido tão vivo. Eu nunca tinha me sentido assim antes. O nervosismo era maior do que o que eu podia suportar… parecia que eu ia ter um ataque do coração.
Comecei a balançar meu pé nervosamente. Não saber o que eu iria sentir nos próximos segundos me deixava ansioso. Eu só tinha certeza de duas coisas: A primeira era que eu queria muito isso… mais que qualquer coisa. A segunda era que eu sabia que me arrependeria muito disso mais tarde… muito mesmo… mas agora não era hora de pensar nisso… agora era hora de apenas relaxar e sentir. Eu sentia meus dedos congelarem, meu peito queimar e minha mente se entorpecer com um prazer até então desconhecido. Isso era novo para mim. Era demais.
Nossos olhares se cruzaram e nós começamos a rir. Rir do nervosismo que ambos estávamos sentindo. O mais engraçado era saber que o outro estava sentindo exatamente a mesma coisa.
Delicadamente, Lucas retirou meus óculos e os colocou em cima da mesinha. Ótimo… agora eu estava cego de vez… mas eu confiava no Lucas… se ele tinha me tomado a visão, é porque sabia que eu não precisaria dela. Quando ele voltou a me olhar, que se aproximou ainda mais de mim, nós não conseguimos… nós dois começamos a rir descontroladamente. Nós não estávamos rindo de algo engraçado… estávamos rindo por puro e simples nervosismo.
Foi aí que ele passou as mãos em volta do meu pescoço e enfiou a cara no meu ombro. Senti seu nariz se encostando em meu pescoço e, logo em seguida, senti ele inspirar para sentir meu cheiro. Eu, sem saber o que fazer, coloquei minhas mãos na sua cintura.
Pela primeira vez tive um contato… ah… como se diz? Acho que… inapropriado… com ele. O modo como eu segurava seu corpo cruzava, sem dúvidas, a linha da amizade. Estávamos para nos pegar. Eu estava colocando minhas mãos nele para sentir prazer, assim como propiciar.
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Estávamos adentrando numa área onde a comunicação era feita por toque. Por contato físico. E eu estava menos assustado do que eu achei que ficaria.
E, em um instante de tempo, ele voltou a ficar cara a cara comigo e avançou sobre a minha boca. Era um caminho sem volta. Ele veio tão de repente que eu até me assustei com o primeiro toque. Nossos lábios se encostaram e, pela primeira vez, eu pude sentir a maciez dos lábios de outra pessoa.
Meu coração quase saiu pela boca. Senti ele encostando sua testa na minha enquanto eu provava, pela primeira vez, de seu gosto.
Por mais que ele fosse meu melhor amigo, quando nossas bocas se tocaram, ele parecia ser um completo estranho. Talvez porque estivéssemos de olhos fechados sem nos ver, num tempo e num espaço desconhecido por mim até então. Eu me sentia perdido. Eu me sentia confuso.
Fisicamente a sensação era até gostosa. Um pouco estranha, talvez… não… um pouco não… muito estranha… mas era um estranho bom… era gostoso beijá-lo… agora eu entendia porque Rafael não parava de fazê-lo. Era muito gostoso beijá-lo. Mas agora, emocionalmente falando, eu estava um verdadeiro redemoinho de confusões. Eu já tinha parado de tentar entender o que eu estava sentindo. Era uma mistura de medo, curiosidade, prazer, vergonha, timidez e alivio… eu estava desorientado… era exatamente isso que eu estava sentindo… eu estava completamente desorientado…
Eu não sabia bem o que fazer, enquanto beijava ele, mas… aos poucos fui pegando o jeito… sua boca era macia, mais quente do que eu esperava e era bem molhadinha… esta tudo indo bem, até eu sentir ele enfiar sua língua de vez na minha boca. Eu me assustei, mas era tão gostoso que logo eu me acostumei… e assim, fui beijando pela primeira vez meu melhor amigo… meu deus… eu não sabia mais o que estava acontecendo…
Tentei enfiar minha língua na boca dele também, para ver qual era a sensação… ele se ajeitou no meu colo e meu coração deu um pulo quando senti uma coisa durinha entre suas pernas… só de pensar que Lucas também estava com uma ereção me fez latejar… não sei porque, mas eu estava ficando cada vez mais excitado com nosso beijo… eu não entendia como isso podia estar acontecendo… nossas respirações estavam completamente descontroladas e estava muito bom.
Eu não sabia se era responsabilidade minha parar o beijo ou se Lucas faria em algum momento… daí comecei a pensar nisso… e se Lucas estivesse esperando que eu parasse? Parar eu não queria, mas… alguma hora tínhamos que parar… e, como já estava começando a ficar mais demorado do que deveria, resolvi botar um fim contra minha vontade. Quando separamos nossas bocas, aproveitei para recuperar o fôlego. Nós dois abrimos nossos olhos e nos olhamos pela primeira vez depois do nosso beijo. A única coisa que eu conseguia ver eram aqueles olhos verdes… droga… como eles conseguiam prender tanto minha atenção?
― E aí… o que achou? ― Ele perguntou.
Ergui os ombros em um sinal de “não sei”.
― Gostou? ― Ele perguntou.
― Foi… estranho… ― ele disse ainda um tanto quanto confuso.
Ele riu. Foi bom ver seus dentes. Confesso que eu achava o sorriso dele… atraente… seus dentes eram branquinhos e ornavam perfeitamente com seus lábios… possuíam algumas imperfeições características, mas eram retinhos e bem alinhados. Um lindo sorriso para combinar com seus lindos olhos…
― Mas estranho bom ou estranho ruim? ― Ele perguntou.
― Não sei… acho que está mais para estranho bom… ― respondi sinceramente.
― Já é minha vez? ― O Rafa perguntou.
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Eu e Lucas rimos. Senti que a coisa estava ficando estranha, pois… Lucas estava sentado no meu colo com o pau duro… isso era demais para mim… daí eu dei dois tapinhas na sua perna, sinalizando que era para ele sair de cima de mim.
― Dá licença… ― pedi.
Ele se levantou e tentou, inutilmente, disfarçar a ereção. Daí eu disse:
― Eu preciso de um minuto…
Fui correndo para o meu banheiro. Entrei, tranquei a porta e, antes de qualquer coisa, me olhei no espelho.
― Meu deus, Arthur… o que foi que você fez? ― Perguntei para mim mesmo.
Eu não estava acreditando que, alguns minutos atrás, minha boca estava encostando na do Lucas…
Levei dois dedos até a minha boca e encostei nos meus lábios. O gosto dele… eu ainda podia sentir… eu ainda podia me lembrar… e eu acho que eu me lembraria para sempre… uma experiência impossível de se esquecer…
O que foi que esse garoto tinha feito comigo? Ele estava mexendo comigo de forma irreversível… eu sentia que eu estava me perdendo aos poucos para ele…
Me olhei no espelho e fiquei admirando meu reflexo por alguns segundos. É… tudo isso culpa do meu rostinho bonito… merda! Eu sabia que não podia ficar no banheiro por muito tempo… eu sabia que daqui a pouco eu tinha que voltar… mas eu não tinha nem ideia do que aconteceria em seguida… e isso me assustava. Foi quando eu ouvi alguém bater na porta três vezes.
― Arthur…? ― A voz melodiosa me chamou.
Daí Lucas tentou abrir a porta, mas, como eu havia trancado, ele não obteve sucesso.
― OI? ― Gritei lá de dentro.
― Você está bem? ― Ele perguntou.
― Ah… sim… estou… pera…
Eu disse e me dirigi até a porta. Daí eu a destranquei e a abri.
― Sim… estou… o que foi? ― Eu disse.
― Só vim ver como você estava… ― Lucas disse.
Saí de dentro do banheiro e fui para meu quarto. Ele me seguiu.
― O que foi? ― Ele perguntou.
― Ah… não é nada… ― respondi.
Fui até minha cama e me sentei lá. Lucas me acompanhou e se sentou ao meu lado. Eu não sabia bem o que dizer, então…
― É só que… eu parei para pensar e… nossa aposta… ― Eu disse olhando para baixo. ― Eu sou um idiota…
― Não fala isso, Arthur… o que tem nossa aposta? ― Ele perguntou e começou a passar a mão nas minhas costas.
Mais um gesto de carinho. Mais uma demonstração de prazer. O que Lucas queria passando a mão na minha costa?
― É a Gi… eu não consegui nada com ela sendo eu mesmo e tive que apelar para a sua ajuda… se for forçado assim, eu não sei se não quero… então… não precisa falar nada pra ela não, okay? ― Eu admiti.
― Não preciso? ― Ele perguntei. ― Preciso sim! Eu preciso falar para ela sobre um grande menino chamado Arthur… não vejo a hora de contar o quão meigo e fofo ele é… e que ela não poderia arrumar melhor companheiro… tá?
― Corta essa, Olhos Verdes…
Eu disse quando ele começou a ficar melancólico demais para meu gosto.
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― Estou falando sério… eu vou falar para ela a quão sortuda ela seria… na verdade, eu vou falar para ela a quão sortuda ela é de ter para si o coraçãozinho do Arthur…
Eu ri… mas agora eu não tinha mais certeza de nada… eu não sabia mais se era Giovanna que eu queria que tivesse meu coração…
― É tão bom te ver rindo… ― ele disse. ― Fica triste não…
Como ficar triste com Lucas me pedindo para não ficar?
― Desculpa… ― eu pedi.
― Tá melhor agora? ― Ele perguntou.
― Acho que sim… ― respondi.
― Gostou do beijo?
― Gostei. ― Admiti.
― Está chateado que perdeu o BV comigo? ― Ele perguntou.
Eu não estava chateado… na verdade, eu até estava feliz… mas, sem saber o que responder, eu apenas disse:
― Deveria?
― Não sei… é que esse é o tipo de coisa que se leva para o resto da vida…
Eu estava satisfeito de ter feito isso com ele…
― Melhor ter perdido com você do que com o cabeça de vento… ― brinquei.
― Ei! ― Ele disse rindo. ― Eu perdi o meu com ele!
― Como vai conseguir viver com isso? ― Eu zoei ele.
― Pois é… ― ele disse. ― Como vou conseguir viver com isso?
― E ele? ― Perguntei sem saber o que dizer. ― Perdeu o dele com quem?
― Não… não sei… ― ele disse.
Quando percebi que talvez tivesse entrando em um terreno complicado para Lucas, logo me arrependi.
― Ah… foi mal… ― tentei me desculpar.
― Não… de boa… é até bom você ter me lembrado… vou procurar perguntar.
― Saquei…
― Mas e aí… ― ele disse.
― O que?
― Hoje de manhã, quando você acordou… imaginou que me beijaria hoje?
Eu ri. Tinha como? Acho que não… eu nunca imaginei que fosse perder meu BV hoje… e muito menos que o perderia com Lucas.
― Tinha como? ― Respondi.
― Não… acho que não… ― ele disse.
Daí nós ficamos em silêncio por um momento.
― Mas e aí… ― eu disse.
― O que? ― Ele perguntou.
― Quem é melhor? Eu ou o cabeça de vento? ― Perguntei brincando.
― No beijo? ― Ele perguntou. ― Ah… só falta você ter mais umas mil horas de prática, que já pode pensar em competir com ele… ― ele brincou comigo.
Nessa hora, nós dois nos olhamos. Nossos olhares se cruzaram e, logo em seguida, eu olhei para sua boca. Nesse momento, eu estava a desejando mais do que tudo. Quando me dei conta, nossas bocas estavam se tocando novamente.
Senti ele passar seus braços em volta do meu corpo e, logo em seguida, ele me puxou para minha cama, onde nós dois caímos enquanto provávamos da boca um do outro. Voltei a ficar nervoso… meu coração voltou a se acelerar porque eu sabia o que podia se seguir depois daqui…
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Estávamos deitados de lado. Daí ele se jogou em cima de mim e ficou por cima. Estávamos nos beijando tão intensamente quanto antes. Isso ficava cada vez melhor. Eu, como já havia dito, estava bem nervoso… mas não consigo explicar o quão mais nervoso fiquei quando senti sua mão invadir minha camiseta. Eu me assustei, mas tratei de me tranquilizar, pois isso estava ficando muito bom…
Ele começou a esfregar a mão em mim e sentir meu corpo. Era a primeira vez que alguém em tocava no âmbito sexual… eu sabia que o próximo passo era o sexo… e isso só me deixava mais nervoso… será mesmo que ele estava disposto a fazer isso? Eu digo… tirar a roupa e tal… eu sabia que ele vivia fazendo isso com o Rafa, então… ele já devia estar acostumado com a sensação de ter outro corpo para si… mas eu não estava acostumado com isso, muito menos confortável… mas estava tão bom que era impossível resistir. Daí resolvi explorar suas costas com as minhas mãos… seu corpo era quente e macio… senti-lo dessa forma era diferente de qualquer coisa que eu já havia feito… era… bom…
E, do nada, ele desgrudou sua boca da minha e abocanhou meu pescoço… se antes estava bom, agora, como se fosse possível, estava melhor ainda… ele começou a babar no meu pescoço e isso era muito bom…
Tentei me ancorar na lembrança de que era apenas Lucas que estava ali. Meu bom e velho amigo Lucas. Não tinha porque eu ter vergonha ou medo. Ele era meu amigo. Estava bom para mim. Estava bom para ele. Não tinha porquê parar. Ninguém nunca saberia disso… eu sabia que, para que isso acontecesse, era necessário um voto de confiança de ambas partes… ele, com certeza, já tinha mostrado que confiava em mim… agora faltava eu mostrar que confiava nele para que esse ato de amor e carinho pudesse se concretizar… foi aí que eu resolvi me entregar de vez. Para isso, comecei agarrando seus cabelos. Enquanto ele foi deixando meu pescoço todo babado e molhado, senti ele jogar uma perna por cima de mim. Sua coxa encostou no meu pau, que latejou.
Ele desgrudou a boca do meu pescoço e se afastou um pouquinho. Daí ele começou a tirar a camiseta. Eu, sem saber como reagir e ainda muito nervoso, exclamei:
― Ei! O que você está fazendo?
― Ei… relaxa… só vou tirar a camiseta porque é melhor beijar sem… e calma… relaxa… não vamos fazer nada que você não queira aqui… tudo bem?
Isso me deixou mais confortável… ele disse a frase que eu queria ouvir… “Não vamos fazer nada que você não queira aqui…” era justamente disso que eu tinha medo… mas isso me tranquilizou. Pela primeira vez, eu me toquei que nós iriamos até onde eu quisesse… até onde eu me sentisse confortável indo… e ele, sem precisar fazer nada, conseguia me mostrar que quanto mais longe eu fosse, mais prazer eu sentiria… e que não havia motivo nenhum para não ir cada vez mais longe… ele estava me mostrando que o fato de eu me entregar ou não só dependia de mim e que era completamente seguro eu me entregar… eu podia confiar nele… seria bom…
― Tá… ― respondi.
― Você se importa se eu tirar a camisa? ― Ele perguntou.
― Acho que não… ― eu respondi com um pouco de dúvidas.
Ele retirou a camiseta e voltou a me beijar. Agora, eu estava mais curioso que nunca. Eu queria muito sentir suas costas nuas… devia ser completamente diferente… devia ser infinitamente mais prazeroso… daí eu levei minhas mãos até lá, para explorá-las. Ele voltou a enfiar a mão na minha camiseta e, a partir daí, a coisa começou a esquentar.
Foi quando ele agarrou minha camiseta e começou a puxar. Eu sabia que ele queria que eu ficasse de peito nu como ele. E, sem pensar duas vezes, eu aceitar… tudo pelo prazer. Daí eu ergui meus braços e permiti que ele despisse meu peito.
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Para isso, nós dois nos levantamos, sem desgrudar nossas bocas, claro, e ele puxou minha camisa peito acima. No próximo segundo, nossas bocas se grudaram novamente como imãs.
Voltamos a cair deitados na cama. Agora ambos estávamos sem camisa nos beijando. Foi quando alguém abriu a porta… era o Rafa:
― Eita! Vocês estão ocupados… ― ele disse meio sem graça. Nós dois desgrudamos nossas bocas e olhamos para ele. ― Fiquei preocupado à toa… erm… eu… eu vou deixar vocês a sós… fazendo… fazendo seja lá o que for isso… ― E ele saiu fechando a porta.
Nessa hora, eu fiquei preocupado. Será que ele tinha ficado chateado? Tudo bem que eu, mais cedo, estava duelando intelectualmente contra ele, mas… não éramos inimigos… e… eu estava fazendo uma coisa completamente errada… eu estava ficando com o namorado dele… com ele do lado… isso era errado… e se ele tivesse ficado chateado comigo? Como eu poderia me desculpar com ele depois?
Confesso que ele nem se passou pela minha cabeça antes disso, pois… eu só tinha olhos para Lucas, mas… agora que ele tinha dado as caras… eu realmente fiquei preocupado… até perdi um pouco da graça e da vontade de continuar, mas… Lucas insistiu em continuar. Ele voltou a me beijar e eu não sabia bem o que fazer… ele estava no comando aqui… eu e ele nos beijamos por mais uns vinte segundos até a porta se abrir de novo.
― Foda-se. ― O Rafa disse. ― Não vou perder isso por nada.
Ele entrou no quarto e fechou a porta.
― Nossa Lucas, desse jeito você vai acabar engolindo o Arthur. ― Ele me zoou.
Separamos nossas bocas, daí Lucas disse:
― Vai ficar aí olhando?
― O que? Não posso? ― Ele respondeu.
Achei bem desconfortável o fato dele querer ficar olhando a gente se pegar… mas, mesmo que o quarto fosse meu, eu não me sentia no direito de expulsá-lo, afinal, era como se ele estivesse me emprestando seu namorado…
― Pode… ué… ― Lucas respondeu.
Me ajeitei na cama e tentei esconder meu desconforto.
― Que horas que você vai mostrar pra gente o que esconde aí, Arthur? ― O Rafa perguntou.
― O QUE!? ― Eu me assustei.
Era só o que me faltava…
― É… você entendeu! ― Rafa disse.
Olhei para Lucas, para ver sua reação… ele deu de ombros…
― Ah… qual é! ― O Rafa disse enquanto se levantava da cadeira. ― Vai dar pra trás agora? Que mal tem um troquinha!
Nessa hora, eu buguei. Buguei sério. Que mal tem um troquinha? Que tipo de pessoa fala isso?
― O que? O Lucas comeu sua língua?
― Ah… eu… eu… não… é… ― Tentei dizer alguma coisa… mas as palavras não saiam da minha boca. ― Olha… eu não vou bater punheta pra ninguém!
Quando percebi o que eu havia acabado de dizer, fiquei com vontade de enfiar minha cara na terra e nunca mais retirá-la de lá.
― Não precisa. ― Rafa respondeu. ― É a gente que vai bater pra você.
― É o que!? ― Gritei.
Meu coração se acelerou… sério… eu estava completamente perdido com esses dois…
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― Anda! Mostra pra gente o que você tá escondendo aí! Tá na cara que você quer! ― Rafa apontou o dedo para minha cintura.
Para minha infelicidade, dava para ver que eu estava duro. É claro que eu estava duro com tudo isso… eu estava beijando outra pessoa sem camiseta enquanto falava sobre punheta. Não tinha como não ficar duro. Tentei tampar minha ereção com as duas mãos.
― Porra! ― Eu disse tímido e vermelho.
― Tá… se tiver com vergonha, o Lucas mostra o dele primeiro! ― O Rafa disse.
― Eiiiii! ― Lucas reclamou.
Bem… não posso negar que eu estava curioso… eu nunca tinha visto o… de outro menino… curiosidade não faltava… faltava mesmo era vergonha na cara para admitir.
― Aff… foda-se. Eu mostro. ― Lucas cedeu.
Nessa hora, meu coração se acelerou ainda mais e eu senti minha respiração ficando cada vez mais rápida e ofegante. Lucas se levantou da cama, agarrou sua bermuda com as duas mãos e, de uma vez, mandou tudo para baixo. Eu queria vez, mas, para manter minha postura masculina, botei a mão na frente e gritei:
― Meu deus, Olhos Verdes! Guarda isso!
― Ei! ― Rafa reclamou. ― Seu idiota! Para de fazer drama! Pode olhar, ninguém vai achar que você é veado! Nós sabemos que você não é! Então não precisa ficar fazendo todo esse teatrinho idiota…
Fiquei mais confortável quando Rafa disse isso. O filho da mãe sabia exatamente o que dizer. Era incrível como ele tinha se tornado tão esperto de uma hora para outra. Ele claramente sabia o que estava fazendo… talvez ele fosse o único de nós que sabia alguma coisa… porque parecia que Lucas estava tão perdido quanto eu… apenas sendo um peãozinho do jogo do Rafa.
Tirei minha mão da frente e dei uma olhadinha de canto de olho. Então era assim que era o Lucas pelado? Ah… não que eu sentisse muita atração, mas eu estava curioso…
Ele saiu de dentro de seu short e de sua cueca e veio se sentar na cama novamente. Acredite ou não, Lucas estava completamente pelado sentado na minha cama nesse exato momento. Não que eu estivesse orgulhoso disso… não… nada disso… só estou comentando mesmo…
Lucas tinha tirado a roupa na minha frente de forma tão natural que ficava evidente que não era a primeira vez que ele fazia isso… de ficar pelado na frente de alguém… por um instante, invejei sua experiência…
O pinto do Lucas era branquinho, como o resto de seu corpo. Ele era retinho, talvez um pouco menor que o meu, o que me deixou mais confiante, e seu saquinho era igualmente branco e redondinho… sem nenhum pelo no corpo.
― Minha vez. ― Rafa disse.
Daí ele se levantou e ficou de frente pra gente… ele retirou a camiseta e logo em seguida desabotoou seu short e abaixou o zíper. Eu não acredito que ele também ia participar disso… esse garoto era inacreditável… daí ele agarrou seu short e sua cueca com as duas mãos e mandou tudo para baixo, mostrando pra gente o que ele escondia por baixo de sua cueca. E, por falar em cueca, ele a retirou e jogou para Lucas, simulando, muito mal, uma tentativa de sedução.
Lucas riu de tão ridículo que foi… mas eu comecei a suar frio… principalmente quando ele veio se sentar na cama com a gente. Agora era minha vez… e eu sabia que não tinha volta… os dois garotos já estavam completamente nus esperando apenas que eu me despisse.
― Pronto! Sua vez! ― Rafa disse.
Senti minha face esquentar. Eu devia estar ficando vermelho… ah, quer saber? Foda-se… os dois já estavam pelados, eu já estava sem camisa… era inevitável… ia rolar… eu querendo
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ou não… não tinha mais volta… ia acontecer… e eu não via mais motivos para ficar com vergonha ou para me segurar. Criei coragem e agarrei minha bermuda com as duas mãos, daí eu disse:
― Eu odeio vocês… ― E puxei meu short e minha cueca juntos.
Era a primeira vez que eu ficava pelado na frente de outra pessoa que não fosse eu mesmo ou minha mãe… era muito estranho, principalmente pelo fato de que eles eram meus amigos, cujo os quais eu convivia diariamente.
― Olha! Que fofo, Arthur! Você já tem pentelhinhos! ― Rafa disse.
Mas, eu nunca tinha ficado com tanta vergonha na vida. Eu não só estava exposto fisicamente, eu estava exposto emocionalmente… para se fazer o que faríamos em seguida, tinha que inevitavelmente se entregar completamente, pensei…
― Pois é… ― eu disse timidamente. ― E pelo visto vocês não…
― Ah… você sabe como é, né… pele de bebê… posso? ― E, quando eu menos esperava, Rafa gesticulou pedindo permissão para me tocar.
Eu, sem saber bem o que fazer, fiz que sim com a cabeça. E a próxima coisa que vi foi um leão faminto vindo com tudo para cima de mim. E, quando fui tocado lá pela primeira vez, joguei a cabeça para trás e fechei os olhos… gemi por causa da sensibilidade que obtive como resposta ao primeiro toque.
Nessa hora, senti meus ombros sendo puxados para baixo. Lucas estava me puxando para trás, para que eu me deitasse na cama. Eu não resisti e apenas me entreguei… me joguei para trás e apenas aproveitei a sensação que a mão do Rafa estava me proporcionando ali. E, como se fosse possível, tudo ficou ainda melhor quando senti a língua do Lucas invadindo minha boca novamente.
Nosso beijo estava ficando cada vez mais safado. Se antes estávamos apenas experimento os lábios um do outro, agora nossas línguas já se enrolavam sem timidez alguma. E cá estávamos nós… agora não tinha mais volta.
― Arthur? ― Rafa me chamou.
Lucas desgrudou sua boca da minha, para permitir que eu olhasse para o Rafa, que perguntou:
― Posso te chupar?
Mas ele não me esperou responder. Aposto que só tinha perguntado para ver minha reação mesmo… e, sem esperar por minha permissão, abocanhou meu pinto…
E foi como voar livremente pelas nuvens. Quando senti aquela boca quente e molhadinha me pegar de jeito, fechei os olhos, joguei para trás e, involuntariamente, gemi…
― Aawwwwnnnt!
Eu nunca tinha sentido tanto prazer na minha vida. Minha mente se inundou de satisfação e alegria. Enquanto tinha uma boca babando na área mais sensível do meu corpo, ao mesmo tempo tinha outra tentando invadir a minha com uma língua ensandecida.
― Me dá uma ajudinha aqui? ― Rafa pediu.
Quando ouvi isso, respirei fundo. Eu não sabia o que ia acontecer em seguida, mas não tinha dúvidas de que seria bom e muito prazeroso. Lucas desgrudou sua boca da minha e foi engatinhando até ficar lado a lado com Rafa, enquanto este continuava me chupando freneticamente.
Foi quando Lucas se inclinou até ficar cara a cara com Rafa, que cedeu espaço para ele. Lucas segurou no meu pau e o puxou para que ele ficasse na posição vertical… eu não acredito que ele ia fazer isso… não era possível… ele não teria coragem de fazer isso… será? Será que ele se atreveria?
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Mas ele levou a língua até lá e lambeu desde a base até a ponta. Tive que agarrar o lençol da cama. Meu deus… como isso era bom… por que isso era tão bom e tão errado ao mesmo tempo? Por que é que eu estava tendo tanto prazer assim com outros dois meninos?
E, quando eu menos esperava, os dois caíram simultaneamente de boca em mim. E eles começaram a me lamber… lamber a parte mais sensível do meu corpo… então era isso que era o sexo? Se fosse isso, eu queria fazer isso todos os dias da minha vida pelo resto dela.
Nessa hora, eu desisti da vida… apenas joguei minha cabeça para trás, fechei os olhos e me abandonei ao prazer, enquanto eu segurava com força os lençóis da cama para não gozar.
― Ei, Arthur! ― Rafa disse. ― Se for gozar, avisa… pra não gozar nas nossas caras…
― Uhum… ― Arthur gemi entre os dentes.
Eu nem sabia mais quem eu era… estava tão prazeroso que eu havia me esquecido de tudo… de Giovanna… de Lucas… de Rafa… até de mim mesmo… eu só estava aproveitando aquilo como se minha vida dependesse disso.
E, do nada, senti uma dor aguda me açoitar.
― AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA! ― Gritei. ― FILHO DA PUTA!
Agarrei o colchão com todas as minhas forças enquanto mordia os dentes numa tentativa desesperada de segurar o choro. O que esses dois estavam aprontando? Por que diabos eu senti alguns pelinhos do meu saco serem arrancados a força?
― Por que fez isso, pelo amor de deus!? ― Gemi de dor.
― Porque é gostoso! ― Rafa disse rindo.
― EM QUE PLANETA? ― Gritei.
― Não gostou? ― Ele perguntou.
― CLARO QUE NÃO! DOEU!
― Bem… teu pinto disse o contrário…
Ignorei o comentário quando senti uma boca me chupar.
― Arthurzinho… posso lamber sua barriga? ― Rafa pediu.
― Ah… porra… ― Respondi sem fôlego.
E, do nada, senti uma língua quente e molhada encostar no meu peito. Rafa foi subindo com sua língua e percorreu meu abdômen, meu peito e meu tórax… foi uma sensação maravilhosa… estranha, mas maravilhosa… eu estava ficando surpreso com o quanto de prazer que esses dois estavam sendo capazes de me proporcionar. Rafa levou sua língua até meu pescoço e montou em cima de mim, encostando seu pênis quente na minha barriga.
― Porra! Não encosta teu peru em mim! ― Reclamei.
Ele se levantou um pouquinho e se desculpou:
― Foi mal!
Ele continuou me lambendo desesperadamente. Eu estava adorando isso.
― Ai! Caraí! ― Rafa disse rindo para o Lucas, que devia estar aprontando horrores ali atrás. ― Isso faz cócegas.
― Foi mal! ― Lucas disse rindo.
E, do nada, senti uma língua invadir minha boca… aff… pronto… em menos de uma hora, estava beijando o segundo menino do dia… é… okay… confesso que não foi ruim… beijar Rafael era… interessante.
Sua boca encostou na minha boca sem pudor algum e sua língua entrou e me explorou como bem quis. Ele se deliciou enquanto experimentava da minha boca tanto quanto eu me deliciava enquanto experimentava da dele.
Ele foi deixando minha boca toda babada enquanto passava sua língua tanto dentro quanto fora dela. Senti que ele chegou a lamber até meu queixo.
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Foi quando ele se separou de mim e engatinhou até o Lucas. Olhei para Lucas, que continuava chupando meu pau e depois olhei para Rafael, que agora abria a bunda do Lucas e parecia estar enfiando a língua lá.
― Puta que pariu! ― Exclamei. ― Que porra você tá fazendo, Rafael?
― Ah, dá um tempo! ― Rafa reclamou.
Lucas me soltou e começou a gemer. Ele, que estava de quatro, se jogou na cama e ficou de barriga para cima, enquanto Rafa metia a língua no seu buraquinho.
― Me passa o creme, Arthur? ― Rafa pediu.
Quando vi, tinha um creme na minha cômoda… eu nem tinha visto quem é que tinha ido buscá-lo.
― Deus do céu! ― Eu disse quando comecei a entender o que Rafael estava planejando fazer.
Meu deus! Isso era muito! Será mesmo que ele ia querer comer o Lucas? Sem saber o que fazer, passei o tubo de creme para ele, que pegou, espremeu uma tantada na mão e depois me devolveu.
― Toma. Passa em você. ― Ele disse entregando para mim.
Comecei a tremer… será mesmo que ele ia me deixar comer o Lucas? Quer dizer… será mesmo que Lucas ia me deixar comê-lo?
― Ah… ― Lucas suspirou. ― Isso é bom! ― Ele disse rindo.
Eu não conseguia imaginar como isso podia ser bom! Rafa estava enfiando um dedo no ânus dele! Em que mundo isso era bom? Mas, involuntariamente, comecei a passar o creme no meu pau. Eu não queria saber de mais nada… só queria experimentar o que estava prestes a acontecer. Quase gozei enquanto me lubrificava adequadamente.
― Todo seu. ― Rafa disse rindo depois de preparar o cú do Lucas.
Fiquei nervoso quando ele disse isso. E se eu machucasse o Lucas? E se eu não soubesse fazer isso direito? E se eu não conseguisse proporcionar prazer o suficiente para ele? E se eu não conseguisse enfiar meu pau nele? Não sei quanto tempo demorei pensando, mas Lucas me acordou do meu transe hipnótico quando me apressou:
― Vem logo! ― Ele praticamente implorou.
Fui engatinhando até ele e o admirei por um instante. Foda-se. Se ele estivesse disposto a fazer isso, eu também estava. Daí puxei ele pelas coxas e encostei meu pau na sua bunda. A sensação foi boa… foi maravilhosa.
Guiei meu pau até a sua entradinha e encostei minha cabecinha lá.
― Você vai ter que botar um pouquinho de força… ― ele me orientou.
Entendi e fiz que sim com a cabeça. Daí eu tentei forçar um pouquinho a entrada. É… era mais difícil do que eu pensava… seu buraquinho era bem apertadinho e parecia fazer força contraria a minha penetração. Eu sabia que alguma hora eu teria que forçar mais do que gostaria, daí empurrei com força pra dentro. O creme ajudou a lubrificar e, quando eu menos esperava, estava com meu pênis dentro dele.
― Ah… caralho… ― Gemi quando senti o verdadeiro prazer do sexo.
Apoiei com meus braços na cama e fechei os olhos. A única coisa que eu conseguia pensar era no quão prazeroso isso estava sendo. Era melhor que qualquer punheta que eu já tinha batido. Era melhor que qualquer coisa que eu já tinha feito. Eu simplesmente estava com meu pau dentro do Lucas. Seu cuzinho era apertadinho e estimulava meu pênis em todos pontos possíveis. O creme deixava tudo mais gostoso, pois eliminava o atrito e fazia tudo ficar melecado e molhadinho. Então era isso que Rafa sentia quando comia o Lucas? Agora eu entendia o motivo pelo qual esses dois nunca se desgrudavam um do outro. Como não amar uma coisa dessas? Como não querer repetir isso todos os dias?
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Lucas envolveu meu corpo com suas pernas e me puxou para perto. Tive que me segurar para não cair. Daí tentei comê-lo pela primeira vez fazendo um lento movimento de vai e vem. Mas, sem querer, meu pau escapou e foi cuspido de seu cuzinho. Nessa hora, eu comecei a ficar nervoso, pois os receios que eu havia tido a pouco, estavam se concretizando enquanto se tornavam verdade. Eu não saberia comê-lo direito. E isso causaria uma frustração tanto nele, quanto em mim.
― Ah… droga… ― eu disse.
Tentei meter de novo, mas minha mão tremia muito e eu não estava conseguindo. Foi quando Lucas encostou a mão no meu rosto e me chamou.
― Arthur…
― O que foi? ― Perguntei.
― Ei… Arthur… se acalma… fica calmo…
― Tá… tô calmo… eu acho… ― eu disse.
― Ei… leve o tempo que precisar… vem cá…
Ele me abraçou e me puxou para perto. Soltei meu peso em cima dele e enfiei minha cara em seu ombro, para sentir seu cheiro. Ele passou as mãos nos meus cabelos e no meu corpo.
― Tenta limpar a cabeça… ― ele me orientou. ― Você tá pensando em muitas coisas… tenta só sentir e aproveitar.
Aí ele enfiou uma mão entre nossos corpos e agarrou meu pinto.
― Argh… ― gemi com seu toque.
― Viu só? Vai sentindo… sente essa sensação… você precisa se acalmar, senão não vai conseguir… só sente… relaxa e deixa ir…
Respirei fundo alguma vezes e, finalmente, levantei meu corpo.
― Quer que eu vire? ― Ele perguntou. ― Acho que assim fica melhor pra você… ― ele disse e se levantou até ficar de quatro.
Segurei sua cintura e aproximei meu pau de seu buraquinho.
― Vai… tenta agora… ― ele me instruiu.
Meti novamente, dessa vez com mais facilidade.
― Ah… ― gemi de prazer.
― Agora vai indo… ― ele disse. ― Você sabe o que tem que fazer…
― Tá… ― concordei.
Segurei ele com firmeza e comecei a fazer movimentos de vai e vem… era difícil, mas eu estava pegando o jeito.
― Isso… tenta ir mais fundo agora… ― ele pediu.
Meu deus… será que eu já não estava fundo o suficiente? Para mim, do jeito que estava, já estava ótimo… mas, se ele quisesse que eu metesse mais fundo, por que não? Agarrei sua cintura e tentei penetrar ele com mais força e com mais profundidade… isso me deu muito mais prazer.
― Argh! ― Gemi.
― O que foi? ― Ele perguntei. ― Tá doendo?
― Não… ― eu disse. ― Só tá meio apertado…
― Ah… desculpa… ― ele se desculpou.
― Ah… porra… ― tive que gemer.
Continuei comendo ele ali por mais ou menos uns trinta segundos, até que a vontade de gozar começou a se tornar insuportável.
Bom, já estava difícil me segurar, aí o Rafael ainda tem a brilhante ideia de ir atrás de mim para chupar meu pescoço. Não resisti.
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― Ah… caralho… acho que vou gozar… ― Eu admiti.
Eu não podia gozar no Lucas… tadinho dele… como ele ia se limpar depois… daí tentei tirar meu pau de dentro dele antes que explodisse em porra.
― NÃO! ― Os meninos gritaram.
― O que foi? ― Perguntei. ― Posso…
Fiquei com vergonha de perguntar se podia gozar no cú dele, daí só indiquei com o dedinho.
― Pode! ― Ele me deu permissão. ― Só vai! Aproveita!
Daí eu meti o mais fundo que conseguia e, sentindo os mais diversos prazeres que a vida podia proporcionar, concretizei a minha primeira relação sexual… com um menino.
Gozei… e como gozei. Também não economizei nos gemidos.
― Aaaaaaaaaaaaawnnt!
Senti a porra fluir livremente enquanto eu inundava o cuzinho do Lucas com o meu esperma. Que sensação maravilhosa era essa que se apossava do meu corpo.
― Ah… porra! Isso é bom! ― Gemi.
Tentei penetrar ainda mais fundo.
― Ah… caralho! ― Gemi. ― Ah… porra… droga… isso foi bom…
Quando finalmente terminei de gozar, saí de dentro dele e me atirei na cama.
― Minha vez! ― Rafa exclamou feliz da vida. E foi a vez dele comer o Lucas.
Bem, não preciso nem dizer que a lucidez que veio com o orgasmo me atingiu como uma bala, né? Todas as dúvidas, arrependimentos e incertezas vieram à tona. Eu fiquei completamente perdido e confuso. A primeira coisa que fiz, foi apanhar minha cueca do chão e vestir. Em seguida, vesti o resto da minha roupa rapidamente, pois eu não estava mais aguentando de vergonha.
Quando olhei para Lucas, que estava dando para o Rafa, ele gemeu:
― Aaahhh! Acho que vou gozar…
Mas ele estava de quatro em cima da minha cama. Daí, num reflexo quase que instantâneo, eu gritei:
― SÓ NÃO GOZA NA MINHA CAMA POR…
Tarde demais… já era meu lençol… inundado de porra de menino…
― …FAVOR…
― AAAAAAAAAAAAAAHHHHHH! ― Lucas gemeu.
― Aaaaaaargh! ― Rafa também gemeu enquanto os dois caíam exaustos na cama.
― Aff… caralho, Olhos Verdes, você deixou sua porra cair na minha cama! Que nojo! ― Reclamei com ele.
Porra! Eu dormia ali! Com todo respeito!
― Ah, se fode, Arthur! ― Lucas me xingou. ― Era o mínimo que você poderia esperar depois disso, né? E além do mais, é só porra… vê se cresce! Você já deve ter derrubado mais porra aqui do que eu!
Filho da puta abusado! Isso era coisa que se falava para um amigo!?
― Eiiii! Galera! ― Rafa tentou nos impedir de começar uma briga. ― Não vamos começar agora… ainda estou aproveitando aqui… ― ele disse com os olhos fechados.
― Ah cara… o que foi que eu fiz!?!? ― Perguntei para mim mesmo quando comecei a cair na realidade.
Eu tinha… feito sei lá o que tinha sido isso… com o Lucas e com o Rafa… meus amigos… os meninos que eu convivia diariamente… os meninos que eu tinha que ver todo dia na escola… e agora nós já tínhamos nos vistos pelados… já tínhamos nos vistos fazendo coisas embaraçosas…
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― Ah, qual é! ― Rafa reclamou. ― Não me venha com essa ladainha agora não, Arthur! Nem precisa começar esse teatrinho de stress pré sexo! Você fez sexo com a gente e agora já era! Aceita! Viva com isso!
― Pós… ― Lucas corrigiu o Rafa.
― O que? ― Ele perguntou sem entender.
― Pós sexo… pré é antes… você disse pré-sexo… mas o certo é pós…
― Ah… obrigado… mas é pós… tem certeza? Tipo… não é pré? Tipo… depois?
― Não… depois é pós…
― GENTE! ― Gritei. ― Dá para vocês vestirem alguma roupa?
Como é que eles conseguiam agir tão normalmente depois de tudo que havia acontecido? Como é que eles conseguiam ficar pelados um olhando para o outro? E, mesmo depois que eu implorei para que eles vestissem alguma coisa, eles continuaram indiferentes.
― Por favor…? ― Pedi.
Aí o Rafa olhou para o Lucas e disse:
― Mas… tipo… pré-pago… não é quando você paga o telefone depois de usar?
― Não… ― ele disse. ― É quando você coloca créditos… sabe? É aí fica tipo… pré-pago… paga antes… sacou?
― Hum… acho que sim…
― GENTE! ― Gritei.
Senhor! Como eles conseguiam ser tão indiferentes?
― O que foi? ― Rafa perguntou. ― Porque se vestiu? E o segundo round?
― Que segundo round!? ― Reclamei. ― Eu e o Lucas ainda temos que terminar de revisar a matéria!
― Aff… você tá brincando né? ― Rafa disse.
― Lucas! ― Tentei chamá-lo.
― Lucas! ― Rafa me chamou.
― Lucas! ― Chamei ele de novo.
― Aff! Droga! Gatinho… é a casa do Arthur… se veste aí… ― Ele disse apanhando sua cueca do chão. ― Depois a gente termina isso… você quer ir jantar lá em casa hoje? ― Ele o convidei.
Finalmente! Alguém com bom senso aqui!
― Sério? ― Ele perguntou. ― E sua mãe? ― Ele disse vestindo a cueca.
― Ela vai ter que te aceitar alguma hora… ― Lucas disse.
― Tá… tudo bem… eu vou… é bom que eu precisava conversar com ela…
― Vocês são inacreditáveis… ― Eu suspirei e botei a mão na cara. Como eles conseguiam?
― O que foi? Não se pode nem mais marcar uma transa hoje em dia… ― Rafa disse e Lucas riu.
Eles não tinham um pingo de juízo.
― Posso usar seu banheiro, Arthur? ― Lucas pediu.
― Pode… fica à vontade… ― eu disse.
― Não se matem na minha ausência, por favor… ― ele pediu.
Quando o Lucas saiu, fiquei sozinho com o Rafa no quarto. Eu, particularmente, não me sentia muito confortável sozinho com ele.
― Rafael… ― eu o chamei.
― Oi? ― Ele atendeu.
― Posso… te perguntar uma coisa? ― Perguntei.
― Claro… diz aí!
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Pensei um pouquinho em como perguntar, daí cheguei à conclusão de que era melhor ser direto mesmo…
― Por que?
― Por que o quê? ― Ele se fez de inocente.
― Você entendeu. ― Eu disse.
― Ah… sei lá… acho que… porque… porque seria bom pra todo mundo… eu acho… você não gostou?
― Você não se importa de ver o Lucas ficando com outras pessoas?
― O quê!? Claro que me importo! Mas não tenho ciúmes de você, se é o que você está pensando. Você mesmo disse que é hétero… não disse?
― Sim. Eu sou.
― Então… você não é uma ameaça pra gente, Arthur… você é nosso amigo… só queria compartilhar um pouco da nossa diversão contigo… foi legal pra todo mundo, já passou… se quiser repetir, a gente repete… se não quiser, a gente respeita… mas o que eu queria mesmo era te mostrar que você não precisa ter medo da gente… não precisa ter medo de beijar um outro menino, nem nada do tipo… porque no final, foda-se! É só um beijo… é só uma ficada… não é nada demais, cara… não precisa ficar tímido ou com vergonha da gente… somos amigos… compartilhamos um segredo agora… nós três… tenho certeza de que isso vai nos deixar mais próximos… você não concorda?
― Concordo… ― eu disse ainda um pouco confuso.
― Tá satisfeito, com a minha resposta? ― Ele perguntou.
― Sim. ― Respondi. ― Você não é tão ingênuo quanto parece… ― eu admiti.
― E você também não é tão inocente quanto parece… ― ele admitiu.
― É… ― eu disse rindo.
― Acho que o que você mais quer agora é fingir que nada disso aconteceu, né? ― Rafa perguntou.
― É sim… obrigado por entender…
― Não precisa se preocupar, de verdade… eu também quero isso… e acredito que Lucas também…
Eu fiz que sim com a cabeça.
― Você considera que tem uma daquelas relações abertas com o Lucas? ― Perguntei.
― Ah… não sei… não é que nossa relação seja aberta… mas eu tento ser bem compreensível com ele… tipo… a gente tá com doze anos, cara… eu já fiquei com muita gente, mas o Lucas não… e não quero que ele deixe de ficar com alguém por causa de mim… eu sei que ele tá numa das melhores fases da sua vida, que também é uma fase muito complicada… e um namoro com muitas regras pode intensificar essas complicações ainda mais… eu confio no Lucas, e eu acredito de verdade que ele também confia em mim… então… eu não me preocupo muito com isso… por isso que eu encorajo ele a fazer várias coisas, mesmo que isso prejudique nossa relação… eu gosto muito dele, e coloco ele antes mesmo do nosso próprio namoro… então… o que for melhor pra ele, eu sempre faço.
― Entendi… ― eu surpreso com a maturidade que ele estava demonstrando.
― E, sinceramente, eu acredito que Lucas sempre quis ficar com você. Desde o primeiro dia que ele te conheceu… eu sei que àquela hora que ele disse que sempre quis te beijar e tal… ele disse brincando, mas… você já parou para pensar que… talvez isso pode ser verdade? Pois eu já… Lucas fala muito de você, Arthur… é Arthur aqui, Arthur ali… eu acho que ele sente alguma coisa por você. Claro que é diferente do que ele sente por mim, até porque ele sabe que você é hétero e tal… ele nunca admitiu isso para mim. Ele nunca me disse explicitamente que gostava de você mais do que devia, mas, de alguma forma, eu sei que isso é verdade, então…
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Ele se sentou na cama.
― Eu não o culpo… você é bonito, legal, carinhoso, um pouco estranho, talvez… ― ele disse brincando e eu ri. ― Mas, no geral, você é um bom menino, Arthur… e Lucas sabe disso. Eu sei que se ele ficasse com você ia fazer bem para ele. Já você, eu não tinha certeza qual seria sua reação a tudo isso, mas… você parece estar reagindo bem… eu imaginei mesmo que você fosse ficar assim…
― Você realmente não é nada bobo, né? ― Perguntei.
Ele deu de ombros.
― Eu já fui mais bobo do que eu sou hoje. E você sabe bem o que aconteceu de lá pra cá.
― Lucas aconteceu. ― Eu disse confiante.
― Exato. Lucas me mudou. Assim como eu tenho certeza de que ele também te mudou. E eu dou muito valor a isso. Você devia dar também…
― Eu dou.
― É… acho que sim… ― ele disse. ― Mas assim, Arthur… não estou num relacionamento aberto com Lucas não… e, se for aberto, é aberto só pra ele, porque eu só tenho olhos para ele e não tenho a mínima vontade de ficar com ninguém que não seja ele. Eu realmente acredito que ele sinta o mesmo por mim… com exceção de você, acho que ele não ficaria com mais ninguém.
― Eu devia considerar isso um elogio? ― Eu disse rindo.
― Você que sabe. ― Ele deu de ombros. ― Então… é isso.
― Ele sabe de tudo isso que você me falou aqui agora? ― Perguntei.
― Se eu já conversei isso com ele?
― Sim.
― Bem… eu posso ter tentado… mas chegar a falar tudo isso, nunca falei. O que eu realmente quero é que ele descubra isso sozinho. Até lá, vamos ficando com quantos Arthures forem necessários. Haha…
Eu ri.
― Brincadeira, Arthur…
― Eu sei… ― eu disse timidamente.
Um minuto depois, Lucas apareceu no quarto. Ele tinha acabado de se limpar.
― Terminou lá? ― Rafa perguntou. ― Vou lá me limpar… ― ele disse e saiu do quarto.
Lucas veio até mim. Eu estava sentado na escrivaninha, daí ele se sentou ao meu lado. Eu ainda estava meio pensativo com tudo isso que o Rafa tinha acabado de me dizer.
― Thur… tá tudo bem? ― Ele perguntou baixinho.
― Aham… ― Respondi.
― Jura?
― Sim… ― eu disse.
― Gostou?
― Acho que sim… ― eu disse sem graça.
― Olha… se quiser fazer de novo… ― ele tentou me convencer. ― Não precisa ficar com vergonha não, tá? Pode falar. É divertido pra todo mundo… e é mais normal do que você pensa… não tem nada de errado nisso, tá?
Eu fiz que sim com a cabeça.
― Se quiser repetir, promete que vai me contar?
― Tá… pode ser… eu acho…
Rafa já tinha deixado isso claro para mim. Eu só estava mesmo tentando processar tudo o que ele tinha me dito anteriormente.
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― Quando quiser, chama eu e o Rafa pra cá… beleza?
― Tá… eu acho…
― Como foi? Muita coisa na cabeça né?
― É… acho que sim…
― Você vai ver quando você perder a virgindade de trás… ― ele brincou comigo.
― EIIII! ― Reclamei. ― Só lamento, mas aqui não passa uma agulha!
― Eu sei… relaxa… ― ele disse rindo. ― Estou brincando.
― Tá… de qualquer maneira… podemos falar sobre outra coisa? Por favor…? ― Pedi.
― Você quem sabe… mas você acha mesmo que vai conseguir estudar agora?
É claro que eu não ia. A última coisa que eu queria fazer agora era estudar.
― É… acho que não… você tem razão… mas o que vamos fazer agora?
― Olha… eu acho que já vou indo… ― Lucas disse. ― Está ficando tarde e… agora que o Rafa vai lá pra casa, é melhor irmos mais cedo… tudo bem se formos agora?
Droga… senti uma coisa muito ruim quando ele disse que ia embora. Eu estava gostando deles aqui em casa. Mas não tinha como eu dizer isso para ele.
― Tá… acho que sim…
― Vou ligar pra minha mãe… ― ele disse. ― Me empresta o telefone?
― Ah… claro… tá lá na sala… só usar.
― Valeu.
Depois disso, nós três fomos para fora de casa e ficamos na rua, esperando a carona do Lucas.
― É… foi… divertido… não foi? ― Rafa disse.
Lucas me olhou e eu olhei de volta… aí nós dois olhamos para o Rafa. Já estava ficando constrangedor falar sobre isso.
― Ah… qual é! Foi divertido! Eu gostei, pelo menos…
Olhei para meus pés enquanto me lembrava de tudo que tinha acontecido hoje.
― Eu já disse que adoro ciências? ― Rafa disse. ― Nós devíamos estudar mais vezes…
Eu ri e olhei para o lado.
― É claro que estudar foi legal… ― ele continuou falando. ― Mas a parte que eu achei mais legal foi a revisão…
Lucas começou a rir e eu ri dele rindo.
― Claro que quando eu digo revisão, estou usando um eufemismo para sexo.
Senti minha face ficar vermelha quando ele disse a palavra ‘sexo’.
― Porque foi o que fizemos hoje…
Cadê a mãe do Lucas que não chegava!
― Na cama do Arthur…
― Claro… ― Lucas disse.
― Desculpa pela sujeira Arthur… ― Rafa disse rindo.
― Nada… ― Respondi sem nem saber o que estava falando.
― Na próxima vamos trazer camisinhas…
― Como quiser… ― Eu concordei.
― E um lubrificante, claro…
― Nem me fale… lubrificante é qualidade de vida… ― Lucas disse enquanto coçava o bumbum.
― Foi estranho né? ― Rafa disse por fim.
― Com certeza… ― Lucas disse.
― Nunca senti tanta vergonha na minha vida… ― Eu disse ao mesmo tempo.
― Vou enfiar a cabeça na terra e nunca mais sair… ― Lucas acrescentou.
― ―
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― Só não cometi suicídio ainda porque alguém precisa fechar a casa… ― eu disse educadamente.
― Eu definitivamente nunca mais vou falar com vocês… ― Rafa disse ao mesmo tempo.
― É… com certeza devemos nos mudar de cidade… ― Lucas disse.
― E trocar nossos nomes… ― Adicionei.
― É… ― Rafa concordou.
Daí continuamos olhando para a rua.
― Mas eu faria de novo… ― Rafa disse.
― Com toda certeza… ― Eu disse.
― Temos que repetir alguma hora… ― Lucas concordou.
― Quem sabe um beijo triplo… ― Rafa disse.
Nós dois olhamos para ele.
― Que foi!? ― Ele disse rindo e dando de ombros.
Depois de mais alguns minutos, a mãe do Lucas finalmente chegou. Daí eles entraram no carro e se despediram de mim pela janela. E daí, foram embora.
Que. Porra. De. Dia. Tinha. Sido. Esse? Meu deus… eu ainda estava em choque. Eu não sabia nem mais o que pensar… passei o resto do dia refletindo sobre o que tinha acontecido hoje…
Em dado momento do dia, eu só queria ficar na minha cama, no lugar onde tudo tinha acontecido… em outro momento do dia, eu nem conseguia ficar no meu quarto, pois não conseguia parar de me lembrar de tudo…
Eu não sabia se tinha gostado ou não. Eu não sabia se era a coisa certa ou não. Eu queria muito que fosse, mas isso não era uma resposta de uma pergunta trivial… tinha muito em jogo… eu estava ansioso pelo dia que se seguia… eu estava ansioso para saber o que ia acontecer na próxima vez que visse os meninos… eu estava ansioso para saber como eles iam se comportar… como eu iria me comportar… tudo isso rodopiava na minha cabeça.
E, se toda noite, antes de dormir, eu perdia pelo menos uns quarenta minutos pensando na vida, na noite de hoje eu gastei pelo menos duas horas. E não foi pensando na vida. Não foi pensando na escola, nem na Giovanna. Foi pensando em alguém… diferente… foi pensando em alguém… com os olhos verdes… pensando em como seria legal ficar com ele novamente… em como eu tinha gostado de beijá-lo… ah… droga…
O Lucas era uma das pessoas mais fofas que eu conhecia. Não tinha como não gostar dele. Eu acho que, por mais difícil que seja admitir isso, eu acho que o que eu estava sentindo era bem mais forte do que simplesmente gostar… eu acho que… eu acho que eu estava apaixonado por ele. .