Acordar nunca tinha sido tão custoso. Parecia que tinham ateado fogo sobre meus olhos. A luz do sol nunca fora tão intensa e brilhante.
― Rafa… ― gemi manhosamente ao perceber que o sol já havia raiado.
Levei alguns segundos para racionar aonde é que eu estava. Quando me dei conta, percebi que estava no chalé. Eu estava deitado na cama de casal do nosso quarto e um lençol me cobria. Senti que eu estava sem camisa, mas pelo menos vestia uma bermuda. Olhei para o lado e fiquei mais tranquilo quando vi o Rafa.
Ele, por outro lado, estava descoberto… ele estava deitado de barriga para baixo, com a cara afundada no travesseiro; com os braços e as pernas abertos, ocupando, nada mais, nada menos, que setenta por cento da cama; e o pior… ele estava vestindo apenas uma cuequinha branca. Eu diria até que ele estava com a bunda arrebitada pra cima.
Bom… até aí nada de novo… eu e o Rafa acordamos juntos na cama de casal… o único problema era que eu não fazia a mínima ideia de como tinha vindo parar aqui depois da noite de ontem… e minha cabeça doía impiedosamente.
― Rafa… ― eu o chamei de novo quando percebi que ele não deu sinal de vida. ― Rafael! ― Gritei.
Nada. Foi quando alguém entrou no quarto.
― Ah… finalmente acordou, hein? ― Gabriel disse parando em pé na porta do quarto. Ele se apoiou com um cotovelo na porta.
― Gabriel… ― eu disse com a voz rouca.
― Pois não?
― Que horas são…? ― Perguntei com medo da resposta.
― Acho que já se passaram das três da tarde…
― TRÊS!? ― Eu gritei enquanto me levantava da cama. ― Puta que pariu!
― Eii! Vai com calma! Relaxa, Lu.
― Droga! Droga!
Num pulo, eu me levantei da cama e corri para o banheiro. Chegando lá, procurei desesperadamente pela minha escova de dentes. Gabriel também se dirigiu até o banheiro, parou na porta e ficou me olhando. Enquanto eu botava pasta na escova, perguntei:
― Vocês estavam esperando a gente acordar pra sair?
― Sair pra onde? ― Ele perguntou.
― A gente não vai sair hoje?
― Nah… relaxa… papai e mamãe desistiram… eles chegaram tarde ontem à noite… mais tarde que vocês dois, inclusive… daí, quando foi hoje nove horas da manhã, papai desistiu dos planos… uma vez que todo mundo estava morto: Eu, eles, vocês e a Jú…
― Entendi… ― eu disse enquanto metia a escova na boca. ― Pode acordar o Rafa, por favor? ― Pedi com a boca cheia de espuma.
― E você acha que eu já não tentei? O garoto está dormindo feito uma pedra… você que devia tentar acordá-lo agora…
Eu sorri enquanto cuspia a espuma na pia.
― Então estamos com a tarde livre? ― Perguntei.
― Estamos sim… ― ele respondeu.
― Que ótimo… e… como foi sua noite? ― Perguntei enquanto enxaguava a boca.
― Ah… foi legal… antes de eu pegar vocês no Lual, eu e a Jú dançamos bastante lá no clube… foi bem divertido…
― ―
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― Imagino. ― Eu concordei. ― Me dá licença um minutinho? Só pra eu fazer xixi aqui… ― Eu pedi.
― Ah… claro… foi mal… ― ele respondeu e saiu da porta do banheiro.
Fechei a porta e me dirigi até o vaso.
Então quer dizer que Gabriel tinha ido buscar a gente ontem? Hum… interessante… eu não me lembrava disso… eu lembrava somente de algumas partes da noite… quando comecei a fazer xixi, percebi que ele estava completamente transparente… que curioso… isso só acontecia quando eu ingeria bastante líquido… e, conforme o barulhinho do xixi caindo na água ia ecoando pelo banheiro, algumas memórias da noite anterior foram surgindo…
* * *
― Gente, esses dois aqui são Lucas e Rafael, que eu falei pra vocês. Eles namoram e são de São Paulo.
― Oi, gente… ― eu disse tímido.
― E aí… ― Rafa disse enquanto ia cumprimentando todo mundo.
― E esses são Pedro, Samuel e Lívia.
Pude perceber que Samuel e Lívia estavam próximos demais para serem só amigos. E Pedro, como estava sozinho, imaginei que fosse o amigo gay que ela havia falado. Samuel devia ter uns dezesseis anos. Lívia e Pedro deviam ter treze ou quatorze.
Nós nos cumprimentamos e nos juntamos a eles na rodinha. No meio da rodinha tinha duas garrafas de vodka. Só fui perceber isso quando Isabela pegou uma das garrafas e começou a servir em alguns copos.
― Vocês bebem? ― Ela perguntou.
― É… nunca bebi… ― Rafa disse.
― Nem eu… ― eu respondi.
― É… se têm uma primeira vez pra tudo.
Nessa hora, meu coração se acelerou. Eu nunca tinha bebido antes… a única memória que eu tinha sobre bebidas era relacionada a Arthur… bebendo e fazendo merda no baile de formatura do nono ano…
Nunca me senti tão inseguro na vida igual eu me senti quando Isabela me entregou um copo preenchido até a metade com Vodka.
― Só isso? ― Rafa perguntou quando recebeu um copo igual ao meu.
― Vai com calma, loirinho! Isso não é refrigerante não…
Como eu havia dito, eu estava inseguro. Eu não queria beber… quer dizer, não que eu não quisesse… eu só estava com medo. Todas as vezes que eu já vi alguém bebendo, eu vi essa pessoa fazendo merda e agindo de forma estúpida logo em seguida. Por que comigo seria diferente? Por que eu não agiria igual um retardado? Era evidente que o álcool era capaz de fazer as pessoas saírem de si. Pelo menos era isso que eu imaginava que ele fizesse. E, a última coisa que eu queria, era perder o controle de meus pensamentos e de minhas ações. E eu não sabia se o álcool fazia isso ou não… o que me deixava amedrontado.
Levei o copo até meu nariz e cheirei. A princípio não senti cheiro de nada… era um líquido transparente, inodoro e incolor… devia ser como água… mas, de repente, subiu um ardume de cachaça que até me fez ter vontade de espirrar. Resolvi provar.
Olhei para o Rafa e ele parecia estar tão indeciso quanto eu. Daí, lentamente, levei o copo até a boca e bebi um golinho. Senti um gosto horrível no fundo da língua. Meu deus! Que gosto horrível! Era um gosto amargo, duro e estranho… que me embrulhou o estômago e me fez ter vontade de vomitar. Senhor! Fiquei me perguntando o motivo pelo qual as pessoas
― ―
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bebiam… mas, enquanto eu provava o álcool pela primeira vez, Rafa virou o copinho como se fosse água.
― Loirinho! ― Uma das meninas gritou quando viu o que o Rafa estava aprontando.
― ARGH! ― Rafa exclamou com uma cara de quem ia vomitar.
― Você é maluco de virar tudo assim! ― Um dos meninos disse.
― Acho que a bebida de vocês tá estragada… ― Rafa disse fazendo cara de nojo.
Os garotos riram dele.
― Não tá estragada não… tem esse gosto mesmo… o gosto é ruim, mas o efeito que causa é legal… daqui a pouco você vai estar viajando na maionese… ― um dos garotos disse.
― É… mas vai devagar… se você beber muito rápido, vai acabar ficando tonto demais… ― uma das garotas alertou.
― Enche o copo dele de novo, Isa… ― o garoto mais velho disse.
Isabela foi até Rafa com a garrafa de vodka e encheu novamente o copo até a metade. Acho que estávamos numa fria. Era só o que me faltava… alguns adolescentes desconhecidos e imaturos iriam embebedar a gente…
― O Loirinho tem a garganta quente… ― o amigo gay das meninas disse fazendo voz afeminada.
Não gostei da forma como ele se referiu ao Rafa. Garganta quente… que elogio mais ambíguo e inapropriado… o que mais ele queria dizer chamando meu Rafinha de garganta quente? Fiquei com um pouco de ciúmes.
― Você não vai beber, Olhos Verdes? ― O garoto mais velho disse.
Nessa hora, me deu uma sensação ruim na barriga. Tudo bem que eles estavam apelidando a gente com apelidos triviais… como Loirinho e Olhos Verdes… mas… quem me chamava assim era o Arthur… talvez isso fosse um sinal divino… me alertando para não beber… me pedindo para lembrar do que acontecera com Arthur… me senti mal… e também senti um pouco de saudades… fazia tanto tempo que eu não o via…
― Ah… vou… ― eu respondi sem graça e dei mais um gole, por educação.
Daí, alguns segundos depois, o Samuel, que era o menino de dezesseis anos, e a Lívia, que a era a garota estranha, se levantaram da roda, pegaram uma das duas garrafa de vodka e disseram que iam dar uma volta, para ficar. E eles foram embora. Achei melhor mesmo, porque eu não tinha ido muito com a cara deles… eles me deixavam com medo. Samuel, com certeza, era o dono das garrafas de vodka. Por ele ser mais velho, eu sentia que ele exalava um arzinho de arrogância.
Eu e o Rafa conversamos mais alguns minutos com a Lili, com a Isabela e com o Pedro até que este se levantou da roda e chamou a Lili para o canto. Dez segundos depois, a Lili chamou a Isabela, que foi até a amiga e me deixou sozinho com o Rafa, mas foi por pouco tempo. Só deu tempo da gente trocar uma olhada demorada e comunicativa até que a garota retornasse. Isa voltou, se sentou com a gente e disse:
― Desculpa a demora, gente. Pedro disse que estava a fim de ir arrumar uns machos lá na festa. E Lili vai com ele, pra ver se arruma um marido.
Eu e o Rafa rimos. Algo no modo como ela disse “arrumar uns machos”. Mas eu gostei que eles foram embora. Aquele Pedro, embora ele tivesse a mesma orientação sexual que a gente, parecia ser bem chatinho… a Lili era até legal, mas, pelo visto, ela estava de olho em mim, e… como eu não tinha nenhum interesse nela, não seria legal ficarmos juntos. Daí restaram apenas eu, o Rafa, a Isabela, a garrafa de vodka e a fogueira… debaixo do céu estrelado de Porto de Galinhas, enquanto curtíamos uma música eletrônica de muito bom gosto que ecoava do Lual, que estava a vinte metros da gente.
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― E aí… ― Isabela perguntou enquanto se aproximava da gente. ― Como foi que vocês se conheceram? ― Ela disse e se sentou na esteira de praia que ficava ao lado da nossa.
Olhei para o Rafa e ele olhou para mim. Pude percebi que um pequeno sorrisinho se formava em seus lábios.
― Na escola… ― ele disse olhando apaixonadamente para mim. ― Lucas passou a estudar comigo esse semestre… melhor coisa que me aconteceu…
― É… ― eu concordei sorrindo de volta timidamente e dando mais um gole na bebida, para ver se a vergonha passava.
― Hum… legal… e faz tempo que vocês namoram? ― Ela perguntou curiosa.
― Mais ou menos uns dois meses e meio… ― eu respondi.
― Só? ― Rafa perguntou. ― Parece que faz muito mais…
― É que a gente se conhece a muito mais, né… ― expliquei. ― Mas namorar, namorar mesmo… vão fazer quase três meses.
― Legal… e quem pediu pra ficar com quem primeiro? Vocês sabiam que o outro era gay antes de ficarem? ― Ela perguntou fazendo uma carinha engraçada de curiosa.
― Ah! Eu respondo essa! ― Rafa disse prontamente.
* * *
Terminei de fazer xixi (levei uma eternidade para isso… não que seja do seu interesse, né…?) e de lavar o rosto e voltei para o quarto. Quando olhei para o Rafa, pude ver que agora ele tinha se virado e estava deitado de lado. Como ele estava só de cuequinha, era difícil resistir e não olhar… claro que sua coxa estava tampando, mas… acho que alguém estava de pau duro… ele devia estar tendo sonhos deliciosos…
Me dirigi até a cama de casal, onde jazia o corpo do Rafa e me sentei lá. Um segundo depois, Gabriel apareceu no quarto segurando um copo de água.
― Aqui… pra você… ― ele disse e me entrou o copo.
― Ah… obrigado! ― Eu agradeci.
Que gentil… ele me trouxe um copo de água e se sentou ao meu lado… bem colado, por sinal… eu, muito sem graça, olhei em volta procurando pela minha camiseta… mas, como não vi sinal dela, resolvi deixar para lá… eu só não estava muito confortável sem camiseta com ele no quarto… Gabriel não era alguém que eu estava acostumado a ficar perto sem camisa… confesso que eu estava até com um pouco de vergonha.
― Bebe tudo. ― Ele me orientou.
Quando botei o copo na boca e comecei a engolir, ele disse:
― Vai fazer bem pra ressaca.
Quando ele disse isso, eu quase me afoguei. Se antes eu estava com vergonha de contar que tinha bebido, agora eu estava com vergonha por ele saber disso. Mas, ainda assim, eu continuava sem jeito de perguntar que diabos tinha acontecido ontem, porque eu não me lembrava de porra nenhuma…
― Que foi? ― Ele perguntou quando viu que eu me engasguei com a água.
― Nada… nada… ― eu disse tentando disfarçar.
― Não se preocupe, eu não contei nada para meus pais…
Fiquei mais aliviado quando ele disse isso.
― Obrigado… eu acho… ― eu agradeci.
― Relaxa… quem nunca bebeu antes dos treze?
Eu ri.
― Como tá a barriga? ― Ele perguntou.
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― Bem… eu acho… ― eu disse enquanto bebia mais um pouco de água.
― Que bom. Porque você vomitou bastante ontem à noite…
Quando ele disse isso, me engasguei novamente e quase me afoguei.
― Que foi? ― Ele perguntou.
― Vomitei? ― Perguntei implorando para que ele estivesse brincando.
― Haha… não se lembra não? ― Ele perguntou com um pouco de dó.
Eu fiz que não com a cabeça.
― Posso te contar um segredo? ― Perguntei.
― Diz aí…
― Eu não me lembro de quase nada… da noite de ontem… ― eu disse preocupado.
― Ah… pois é… o doce presente que o álcool nos dá no dia seguinte… você sabe, né? Que beber muito pode causar perda de memória…
― Ah… sim… pois é… acho que eu já ouvi isso em algum lugar… por que isso acontece? ― Perguntei curioso.
― Hm… é que assim… quando a gente bebe… bem… o álcool mexe com o nosso cérebro, certo? Ele meio que sobrecarrega nosso cérebro… por isso que a gente fica meio abestalhado e lerdinho… e essa sobrecarga pode afetar a área da memória… deixando o cérebro confuso sobre o que registrar ou não… então… não é que a gente se esquece das coisas… é que o cérebro tá muito ocupado fazendo outras coisas que simplesmente deixa de registrar o que está acontecendo… entendeu?
― Acho que sim… ― eu disse enquanto bebia mais água. ― Eu vomitei mesmo? ― Eu perguntei preocupado.
― Desculpa ter que te contar isso, mas… sim… você vomitou bastante… mas não mais que aquele ser ali… ― ele disse e apontou a cabeça para o Rafa.
* * *
― Legal… e quem pediu pra ficar com quem primeiro? Vocês sabiam que o outro era gay antes de ficarem? ― Ela perguntou fazendo uma carinha engraçada de curiosa.
― Ah! Eu respondo essa! ― Rafa disse prontamente.
Fiquei surpreso com a atitude do Gatinho. Que história era essa de ele querer responder essa pergunta?
― Bem… a gente ficou pela primeira vez numa festa de aniversário de um amigo nosso… e não… nós não sabíamos de nada antes de ficarmos… acontece que, éramos melhores amigos, o Lucas estava apaixonado por mim e eu estava apaixonado por ele… mas nenhum de nós sabíamos disso… do outro… daí, nessa festa, levei um fora de uma garota e…
Quando ele disse que levou um fora de uma garota, Isabela começou a rir.
― Você? Levou um fora? Quem foi a louca que deu um fora no Loirinho?
Ele riu também. Eu não achei graça… mas também ri… e não sei porquê… do nada, as coisas começaram a ficar mais engraçadas. Que curioso. Dei outro gole na bebida.
― É… era uma mal comida aí… ― Rafa se referiu a Bia com o maior desprezo do mundo.
Isabela riu. Eu ri quando ele chamou ela de mal comida. Bia dava para o Hermes… bota mal comida nisso… que curioso. Dei outro gole na bebida.
― Daí eu levei um fora, fiquei triste e resolvi ir dar uma volta na área escura da festa…
― Huuuumm… área escura… ― ela disse dando um tapinha no ombro do Rafa. Rafa começou a rir. Ela também… e eu também…
E, do nada, nós três ficamos iguais três idiotas rindo. Que curioso… dei outro gole na bebida.
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― Sim… daí Lucas foi ver se estava tudo bem comigo, e…
Nessa hora, o Rafa pegou na minha mão e me olhou nos olhos. Eu entendi o que ele queria. E eu queria beijá-lo mais que tudo nesse mundo.
Ele se aproximou de mim, eu me aproximei dele e nossas bocas ficaram muito próximas. Ele estava mais lindo que nunca. Olhei para seus olhos, que me olhavam de volta. Não havia mar que tivesse um azul tão bonito quanto o de seus olhos. E eles eram meus. Olhei para sua boca, que estava meio abertinha, esperando um beijo meu. Não havia boca mais gostosa de se beijar que a dele. E ela era minha. E era só minha. Não havia garota ou garoto naquele Lual que a tiraria de mim. Eu a tinha para mim. E nada no mundo me deixava mais satisfeito.
Seus lábios atacaram os meus e eu não me importei de beijá-lo na frente de Isa. A esta altura do campeonato, eu já não estava mais com vergonha de nada. Pra falar a verdade, eu estava cagando para essa garota. Eu só queria saber de beijar o Rafa. E, assim que meu pau começou a dar sinal de vida, eu só conseguia pensar em sexo. Passei minhas mãos em volta dos ombros do Rafa e ele abraçou meu corpo. Era romântico demais beijar sob a luz de uma fogueira. Eu estava completamente apaixonado por ele e ele estava completamente apaixonado por mim.
― Ei! Tá bom! Tá bom! Já entendi que vocês se pegaram naquele dia! ― Isa reclamou.
Achei bem engraçado o modo como ela pediu pra gente parar de se beijar. Ela nos tratou como se fossemos amigos. Fiquei feliz por isso. Eu não queria desgrudar do Rafa, mas parece que essa noite nossos papeis tinham se invertido: Eu era o selvagem e ele era o educado.
― É… aí nós ficamos pela primeira vez… ― ele disse me abraçando e olhando para a Isa.
― Meu deus… e eu achando que tinha alguma chance com o Loirinho aqui… Lucas, meu filho, meus parabéns… nunca vi alguém olhar assim, tão apaixonado, pra outra pessoa… ― ela nos elogiou. ― Você fisgou o Loirinho de jeito, hein?
Eu ri.
― Valeu… ― eu agradeci.
Que curioso… tudo estava ficando… meio engraçado… dei mais um gole na bebida.
― Aí chegamos em casa e transamos pela primeira vez… ― Não sei como tive coragem de dizer isso, mas eu disse… e foi em voz alta.
Isabela riu. Rafa me olhou de boca aberta e, logo em seguida, começou a rir também.
― Pode apostar que transamos… ― Rafa disse rindo. ― Nunca te imaginei dizendo isso Lucas… ainda mais em voz alta… logo você… o que tá acontecendo?
― Né!? ― Eu exclamei rindo. ― Não faço a menor ideia… ― eu disse e dei mais um gole na bebida.
― Vocês são engraçados. ― Ela disse parecendo não estar acreditando.
― O que? ― Rafa disse rindo. ― Não acredita não?
― Acredito… ― ela disse sendo irônica.
― Desculpa, se a gente pudesse provar, a gente provava… ― Rafa disse rindo.
― É… pena que não tem jeito… ― eu concordei.
Nós três continuamos rindo e enchendo nossos copos de álcool. Foi quando Isabela disse:
― Pra falar a verdade… tem um jeito de provar sim…
Eu e o Rafa trocamos um olhar e começamos a rir.
― Ela tá maluca, Rafa… ― eu disse.
― Também acho… ― Rafa concordou.
― Estou, é? ― Isabela disse num tom provocativo e olhou para o Rafa.
― Puta que pariu! ― Rafa exclamou. ― Não é que ela está certa?
Fiquei confuso. Rafa tinha pegado, mas eu não… como é que se prova que a gente já transou?
― ―
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― Como!? ― Eu perguntei curioso.
― Lu… é fácil… pensa um pouco… ― Rafa tentou me fazer adivinhar.
Pensei por alguns segundos, mas eu estava ficando cada vez mais embriagado… e, estava cada vez mais difícil pensar…
― Não sei… como!? ― Perguntei para eles.
― É simples… ― Rafa disse para mim. ― Primeiro, você descreve meu pinto…
― E depois ele mostra pra gente… ― Isa completou. ― Se a descrição bater, significa que você já viu ele sem roupa… tcharam! ― Ela disse abrindo os braços num gesto de “surpresa”.
Tcharam… eu disse para mim mesmo.
* * *
― Desculpa ter que te contar isso, mas… sim… você vomitou bastante… mas não mais que aquele ser ali… ― ele disse e apontou a cabeça para o Rafa.
Pela primeira vez no dia, Rafa levantou a cabeça e nos olhou.
― Quem vomitou o que horas são? ― Ele disse completamente confuso e desorientado.
― Aleluia… pensei que ia ter que enterrar… ― Gabriel disse brincando.
― Rafa… acorda aí… já são três horas da tarde… ― eu o motivei.
Ele gemeu alguma coisa que não deu para entender, se virou para o outro lado e voltou a fechar os olhos.
Eu olhei para o Gabriel e sorri.
― Como tá a cabeça? ― Ele perguntou.
― Tô com um pouco de dor de cabeça… ― eu respondi. ― Isso é normal também? ― Perguntei.
― É sim… faz parte da ressaca…
― Ah, cara… ― eu disse para mim mesmo.
― Que foi? ― Ele perguntou.
― Estou de ressaca? Meu deus…
Me senti um pouco mal por isso… eu estava me sentindo péssimo… tanto Gabriel, quanto minha mãe me orientaram a não aceitar nada de estranhos, e… o que é que eu vou lá e faço? Aceito vodka de estranhos! Parabéns, Lucas! Você vai ganhar muitos presentes do papai Noel esse ano, seu retardado!
― Por que a gente fica com dor de cabeça? ― Perguntei.
― É que como o álcool é muito forte para o seu corpo, seu organismo manda toda água disponível para ajudar na digestão. Inclusive a água em que seu cérebro fica mergulhado… daí a falta de água causa dor de cabeça… por isso que é bom beber bastante água quando se está de ressaca… entendeu?
― Uhum… ― eu disse enquanto fazia que sim com a cabeça.
― Fora que a água também vai limpar sua boca e sua garganta, então… faz bem beber água…
― Entendi… ― eu fiz que sim com a cabeça.
Do nada, o Rafa se levantou da cama com muita cara de sono e nos cumprimentou:
― Bom dia… ― ele gemeu.
― Boa tarde, né… ― Gabriel disse e sorriu.
― Alguém pode por favor apagar o sol? ― Ele gemeu enquanto caminhava sonambulamente para o banheiro.
Eu e Gabriel rimos.
― Deixa eu ver se você ainda está quente. ― Ele disse para mim.
― ―
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Daí ele botou a mão na minha testa.
― Ontem à noite, quando você chegou aqui no chalé, você estava com um pouco de febre… seu corpo estava quente e você estava suando… daí botei você pra dormir sem camiseta… espero que não se importe…
* * *
― É simples… ― Rafa disse para mim. ― Primeiro, você descreve meu pinto…
― E depois ele mostra pra gente… ― Isa completou. ― Se a descrição bater, significa que você já viu ele sem roupa… tcharam! ― Ela disse abrindo os braços num gesto de “surpresa”.
Tcharam… eu disse para mim mesmo. Tcharam é o meu ovo! A garota queria ver o pau do meu namorado e nem disfarçava!
― Hahaha… ― eu comecei a rir. ― Muito esperta você, garota! Mas saiba que ninguém aqui vai mostrar o pau pra ninguém! Se quiser, posso descrever pra você sim, mas ninguém aqui vai mostrar pau nenhum!
Ela riu da minha resposta… Rafa também.
― Meu deus! Você barraqueiro fica tão fofo! ― Ele me elogiou.
― Então descreve pra mim! ― A menina pediu.
― É bem grande! HAHAHA! ― Eu disse e virei o restinho de vodka que estava no meu copo.
― HAHAHAHA! ― A menina riu da minha resposta.
― TE AMO! ― Rafa gritou e se jogou em cima de mim.
E, do nada, ele me atacou e me encheu de beijos. Nunca vi esse garoto tão maluquinho igual ele estava agora. Ele me derrubou na esteira que cobria a areia e montou em cima de mim de mim. Daí ele enfiou a língua na minha boca e começou a me beijar vorazmente. Eu amei o modo como ele partiu pra cima de mim. Enquanto ele beijava meu pescoço, eu ergui minha mão com meu copo vazio e disse:
― Isa… secou de novo… você pode fazer o favor de encher mais uma vez?
E a garota trouxe a garrafa de vodka até nós, que estávamos nos atracando no chão. Ela teve dificuldades pra encher meu copo. Primeiro porque ela já estava bêbada, então… acertar a cachoeirinha no alvo era bem difícil… e segundo porque o Rafa estava igual um cachorro louco em cima de mim… eu não conseguia deixar minha mão parada.
Se eu pudesse, eu transava com ele agora mesmo… o clima estava muito romântico… à noite na praia, sob um céu estrelado, com fogueira e música… só que eu não estava bêbado a ponto de arrancar minha roupa e transar na frente de todo mundo… ainda…
* * *
― Ontem à noite, quando você chegou aqui no chalé, você estava com um pouco de febre… seu corpo estava quente e você estava suando… daí botei você pra dormir sem camiseta… espero que não se importe…
― Ah… ― eu disse meio sem graça. ― Tudo bem… ressaca também causa febre?
― Ah… na verdade não… ― ele disse. ― Você deve ter tido alguma reação alérgica ao álcool… ou talvez foi só seu corpo reagindo a ele pela primeira vez… não precisa se preocupar, não acho que seja uma alergia muito forte a ponto de não te permitir beber nunca mais…
― Ah… okay… ― eu disse mais aliviado. ― E cadê minha camiseta?
― Ah… foi mal… tá aqui… vem cá…
Ele se levantou da cama e foi até a sala do chalé. Eu o segui.
― ―
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― Tá aqui, ó! ― Ele disse e me entregou minha camiseta.
O problema é que minha camiseta estava toda suja de areia e terra.
― Nossa… ― eu disse assustado. ― Eu me sujei tanto assim? ― Perguntei.
― Você realmente não se lembra de nada, né? ― Ele disse com um sorriso suspeito no rosto.
― Estou começando a ficar preocupado… ― eu confessei.
― Ah… relaxa… não acho que vocês tenham feito nada demais… pelo menos, na hora que eu encontrei vocês, vocês estavam bem lerdinhos e perdidos… nem estavam aprontando nada… pega outra camiseta, pra vestir… ― ele me sugeriu.
E foi o que eu fiz. Fui até minha mala, que estava estranhamente mais bagunçada que o normal, peguei uma camiseta cavada e vesti, para cobrir meu peito.
― Aqui, deixa eu te ajudar… seu cabelo tá todo bagunçado. ― Ele disse e começou a pentear meu cabelo com as mãos.
― Ah… valeu… ― eu disse mais sem graça ainda.
― LUUUUUUUUUUUUUUUUCAAAAAAAAAAAS! ― Ouvi o Rafa me gritar do banheiro.
* * *
― Querem fazer o favor de pararem de se pegar? Vocês são meninos, devem ser cavalheiros! É feio deixar uma dama de lado!
Eu ri e o Rafa também.
― Desculpa Isa… é que a boca do Lucas é muito gostosa… é difícil resistir, às vezes… se você beijasse ele, entenderia.
― Seeei… ― ela disse. ― Eeiii, meniinos… eu já eeestou bem bê-bada… e vo-cês…?
O Rafa saiu de cima de mim e ficou sentado ao meu lado. Quando levantei meu corpo, para ficar sentado, vi tudo a minha volta giraaaaaaaaaaaar… ai meu deus… então era isso que era ficar bêbado…? Bem… eu estava muito bêbado…
― Eu ainda tô de boa. ― Rafa disse e colocou a mão no meu ombro, para se levantar.
Quando ele foi tentar se levantar, ele deu uma cambaleada forte e, quando viu que ia cair, se jogou em cima de mim. Ele caiu em cima de mim e bateu com o joelho na minha coxa.
― AI FILHEDAPUTA! ― Eu xinguei de dor.
― F-foi… maaaaal… ― ele disse rindo.
Eu comecei a rir também.
― Não tem graça! ― Eu disse rindo. ― Você me machucou!
― Vem! Eu ajudo vocês! ― Isabela disse.
Daí ela colocou nós dois de pé.
― Vocês estão bem? ― Ela perguntou.
― Ahaaaaaaaaaaam… ― Rafa disse rindo.
― Tô! ― Eu disse.
Eu tava bem tonto, tudo ao meu redor girava. Meu raciocínio tinha ficado bem lento… era como se eu demorasse o dobro de tempo para pensar em alguma coisa… eu não conseguia me concentrar em nada e meu equilíbrio estava completamente alterado. Era difícil ficar parado num lugar só e muito mais difícil me movimentar… parece que o melhor mesmo era ficar sentado. Meu estômago também estava estranho. Eu estava me sentindo meio enjoado… eu só não sabia se era por causa da tontura ou por causa do álcool por si só…
― Ah não, meninoooos! Aeinda táe muuuito cedo! Não são neeim uma da manhã aeinda… deeeeixaaa pra namourar depois… vaaamos curtir a festa… vocês gostam de dançar?
― ―
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Eu, particularmente, odiava dançar. Eu sempre morria de vergonha… mas, agora… agora eu não estava com vergonha… e a música estava muito boa… eu estava com vontade de dançar…
* * *
― LUUUUUUUUUUUUUUUUCAAAAAAAAAAAS! ― Ouvi o Rafa me gritar do banheiro. ― CORRE AQUI! IMEDIATAMENTE! TIPO AGORA!
Meu coração disparou. Coisa boa não podia ser. Eu e Gabriel fomos correndo até o banheiro. Rafa estava lá parado segurando seu celular.
― Tem vídeos! ― Ele disse com a boca aberta.
― Nãoooooo… ― eu disse colocando a mão na boca.
― Você precisa ver isso! Vem cá!
Nós três voltamos para o quarto, onde o Rafa vestiu uma bermuda e se sentou ao nosso lado na cama. Eu fiquei no meio, segurando o celular. Meu coração estava disparado, porque a capa do vídeo era eu.
― Dá play! ― Rafa pediu.
Quando eu apertei o botão do Play, eu quis morrer logo no primeiro segundo. Pra você ter uma ideia, a música de fundo que estava tocando no vídeo, era um funk putaria que dizia: “Ela arrebenta, aguenta, senta, tenta tudo e ainda quica. Essa vai pra favela, vai pro morrão, vai pro morrão e vai pra pista. Ôh Dj, solta aí que ela se equilibra.”. E advinha quem estava no meião da pista dançando funk igual uma piriguete…
Coloquei a mão na boca e comecei a rir de vergonha.
― Eu não fiz isso, velho… ― eu disse em voz alta.
No vídeo, eu estava ao lado da Isabela, que parecia estar me ensinando a dançar. Mas eu praticamente tinha flexionado meus joelhos, colocado minhas mãos neles e estava balançando minha bunda pra cima e pra baixo… senhor…
― HAHAHAHAHA! ― Rafa começou a rir descontroladamente.
Aí esse vídeo acabou e começou a tocar o próximo. Nesse outro vídeo, estava tocando aquela música do bonde das maravilhas… pra você ter uma ideia, a música começava assim: “Quatro no quarto pelado com a Carol de cabeça pra baixo.”. E lá no meio do povão estava eu! Rebolando pra valer! Quando chegou na parte da música que dizia: “Faz o quadradinho de quatro”, eu me vi mandando um quadradinho… eu estava horrorizado…
― Não sabia que você sabia fazer quadradinho, Lucas… ― Rafa me olhou atônito.
― NEM EU! ― Eu gritei. ― AAAAAAAAAAAA! ― Eu coloquei a mão na boca.
Claro que meu quadradinho não chegou a ser de quatro… mas que eu mandei um quadradinho ali, eu mandei… o meu tava bem desengonçado… o da Isabela tava bem melhor… ela rebolava bem melhor que eu… mas eu praticamente estava apoiando as mãos no joelho e mexendo os quadris formando um quadradinho…
E daí chegou na parte da música que dizia: “Desce, desce, desce na minha pica.”, e… acredite ou não… eu desci até o chão… quando eu me vi agachando até o chão naquele vídeo, eu soltei um grito, que saiu mais afeminado do que eu gostaria.
― Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!
O Rafa riu da minha reação. Senti minha face ficar vermelha. Gabriel estava vendo isso, mano! E o pior de tudo é que eu não me lembrava de nada disso…
― Eu não fiz isso, velho! Eu juro! ― Eu disse para mim mesmo.
Daí, graças ao céus, o vídeo parou de me mostrar. A câmera virou para trás e filmou o nosso ilustre cinegrafista. Advinha quem é que estava atrás da câmera… sim… claro… só podia
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ser… o pervertido do Rafa era o responsável por gravar tudo… depois de me filmar, ele se filmou e gritou para a câmera:
― MEU DEUS! EU DEVO ESTAR MUITO LOUCO! NÃO É POSSÍVEL QUE O LUCAS TÁ DANÇANDO DAQUELE JEITO! NOSSA VELHO! EU VOU COMER MUITO AQUELA BUNDA HOJE, NA MORAL! UUUUHUUUUUL!
Nessa hora, quem ficou vermelho foi o Rafa. Acho que ele não esperava que tivesse essa pequena cena no vídeo… e advinha quem assistiu tudinho com a gente! Yeeeey! Gabriel! Seu irmão viu tudinho o que aprontamos na noite anterior.
― Meu… deus… ― eu disse em voz alta.
― Não acredito nisso… ― Rafa disse rindo.
― Vocês não se lembram de nada disso? ― Gabriel perguntou.
― Nadinha… ― eu confessei…
― Caralho… eu também não me lembro disso não… ― Rafa disse.
― Estão com fome? Querem comer alguma coisa? ― Gabriel ofereceu. ― Acho que talvez vocês vão querer ouvir o que eu tenho para contar…
Nós três nos arrumamos e fomos até a piscina do hotel. Na área de lazer do hotel onde ficava a piscina, tinha um barzinho que vendia petiscos e sucos naturais. Era, sem dúvidas, o lugar mais legal daqui. Era um ótimo lugar para se passar um tempo, trocar uma ideia, etc. Daí nós três nos sentamos em uma das mesinha dali, uma daquelas de plástico branco. Cada um de nós pediu um coco gelado e também pedimos uma porção de batata fritas.
― Então… ― Gabriel começou. ― Qual é a última coisa que vocês se lembram?
― Hum… ― Comecei a pensar.
― Deixa eu ver… ― Rafa disse. ― A gente conheceu duas meninas lá no Lual… daí elas levaram a gente pra beber…
― Elas estavam com uns amigos, que foram embora assim que a gente chegou… ― eu disse.
― Daí ficamos conversando bastante com aquela menina, a Isabela…
― E ela nos chamou pra dançar… ― eu acrescentei. ― Depois daí, não me lembro de muita coisa…
― É… ela chamou a gente… você se lembra que a gente chegou lá, e você começou a dar chilique querendo ir embora?
Tentei me lembrar disso, mas não consegui.
― Não… mas por que eu queria ir embora? ― Perguntei.
― Ah… bem… ― Rafa disse sem graça. ― Você queria ir dormir…
Quando ele disse isso, me lembrei parcialmente de algo… me lembro de ter enchido o saco do Rafa querendo ir embora… porque… eu meio que… queria… meio que muito… dar pra ele… agora eu me lembrava… senti minha face ficar quente… eu provavelmente estava ficando vermelho… e agora eu entendia porque ele disse que eu queria ir “dormir”…
― E por que a gente não foi? ― Perguntei curioso.
Eu queria saber porque Rafa se recusou a me comer…
― Como que a gente ia embora? Nós dois mal conseguíamos andar, como íamos achar o caminho de volta pro hotel? Daí eu liguei para o Gabriel… só que ele disse que era pra gente esperar, porque ele ia… o que você ia fazer mesmo? ― Rafa perguntou para o irmão.
― Ah, dá licença… vocês me ligaram muito cedo… eu ainda estava dançando com o Jú.
― É MESMO! Eu lembro disso! ― Rafa gritou. ― Eu te liguei, você disse que não podia me buscar porque estava dançando com a Jú… daí eu falei isso para você, Lucas… e você invocou que queria dançar também…
Nessa hora, eu coloquei a mão na cabeça.
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― E aí começou a tocar funk… ― eu disse me lembrando de algumas coisas.
― E a Isabela puxou nós dois pra dançar… ― Rafa concluiu.
― Puta que pariu… não acredito nisso…
― Você se lembra que eu dancei também? ― Rafa perguntou.
Tentei me lembrar, mas não consegui. Droga! Será mesmo que eu tinha perdido o Rafa dançando?
― Na verdade não… ― eu confessei. ― Não lembro…
― Ainda bem… ― ele disse e riu.
― Ei! É sério que você dançou também? ― Perguntei.
― Dancei… ― ele disse rindo.
― E que jeito que você dançou? ― Perguntei.
― Sinceramente? Acho que pior que você… ― ele confessou.
Nessa hora, eu comecei a rir. Eu não estava acreditando que ele tinha dançando também… e que sua dança tinha sido pior que a minha, seja lá o que isso significasse…
― Mas também não me lembro de muita coisa… ― ele admitiu.
― É… quando eu cheguei, vocês estavam quietos num canto… ― Gabriel disse. ― Rafa estava bem tonto e desequilibrado. E você, Lucas, estava bem idiota, rindo de tudo. Lucas, você me disse que vocês foram para o canto porque o Rafa estava passando mal e estava tonto. E o Rafa me disse que vocês foram para o canto porque você estava dançando de tal forma que deixava ele com vergonha alheia.
― Putz… ― eu disse rindo.
― Quem estava certo? ― Rafa perguntou para o Gabriel.
― Acho que os dois… ― ele disse coçando a cabeça. ― Enfim… daí eu perguntei se vocês tinham bebido… claro que eu já tinha percebido, né? Qualquer idiota podia ver que vocês estavam alterados. Daí vocês disseram que não, que não tinha bebido nada. Claro que eu não acreditei, né… mas fingi que tinha acreditado… e vocês compraram minha encenação… mas tipo… qualquer idiota podia dizer que vocês estavam bêbados.
― Não tá ajudando, Gabriel… ― Rafa tentou argumentar.
― Ah… okay… daí eu e a Jú ajudamos vocês a voltarem para o táxi. Eu pedi para vocês se comportarem no táxi e irem com o bico calado.
― E fomos? ― Perguntei.
― Bem… o Rafa xingou o taxista e você, Lucas, vomitou no banco…
― O QUE!? ― Nós dois gritamos ao mesmo tempo.
― Brincadeira! ― Gabriel disse rindo. ― Vocês vieram quietinhos. Os dois. ― Ele desmentiu.
― Ufa… ― eu disse já começando a ficar em prantos…
― Que mais? ― Rafa perguntou.
― Daí nós quatro voltamos para o hotel. Na recepção, as coisas começaram a desandar.
― Putz… ― eu disse começando a ficar preocupado.
― Tudo começou quando o Rafa caiu no meio saguão.
― EU SABIA QUE SERIA VOCÊ! ― Eu disse rindo para o Rafa, que me deu um soco no ombro.
― Idiota… ― ele me xingou. ― Como eu caí? ― Ele perguntou para o Gabriel.
― Bem… nós quatro estávamos no meio do saguão, aí você disse que queria amarrar o tênis. O Lucas te zoou dizendo que seu tênis nem estava desamarrado…
― Nossa, você é muito retardado, Rafa! ― Eu zoei o Rafa.
― Só que o tênis estava desamarrado sim… ― Gabriel continuou.
― RÁ! QUEM É O RETARDADO AQUI!? ― Rafa me zoou. Fiquei com vergonha.
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― Aí, Rafa, você se abaixou para amarrar, e… sabe a posição que você fica pra amarrar os tênis? Então… você ficou parado daquele jeito por mais um menos uns dez segundos, sem nem ao menos conseguir começar a amarrá-los… aí você caiu… igual uma pedra…
― HAHAHAHA! ― Eu comecei a rir imaginando a cena.
― Você caiu e dormiu! Daí tivemos que te chamar umas três vezes até que você se tocasse e se levantasse. Nisso, o balconista da recepção ficou só olhando preocupado.
― Meu deus… que vergonha… ― eu disse.
― Calma, vocês ainda não viram nada… ― Gabriel nos alertou. ― Daí, finalmente saímos da recepção e pegamos o caminho de volta para o chalé. Nessa hora, foi mais de boa, porque não tinha mais ninguém nas estradinhas do hotel, devido ao horário.
― Que horas eram? ― Perguntei.
― Umas três da manhã. Aí, quando estávamos quase chegando no chalé, você, Lucas, disse que queria vomitar.
― Ai não… ― eu disse colocando a mão na testa.
― Como o caminho para o nosso chalé era rodeado de árvores, sugeri que você vomitasse em um matinho que tinha ali… só que você começou a fazer um drama da porra, dizendo que tinha medo de vomitar…
― Eu fiz? ― Perguntei.
― Fez. Eu tentei te orientar… tentei dizer que era bom vomitar… que pôr pra fora ia te fazer bem, mas você disse que estava com medo… o Rafa tentou falar umas coisas nojentas, pra ver se ajudava… mas as únicas coisas que ele conseguia falar eram: Queijo mofado e leite estragado. Como se isso fosse deixar alguém com nojo a ponto de vomitar… mas ele estava achando muito engraçado…
― Hahahaha… ― Rafa riu da sua idiotice.
― E eu vomitei? ― Eu perguntei.
― Oh se vomitou… vomitar é pouco perto do que você fez… veio com tudo e você botou tudo pra fora… vomitou bastante…
― Droga! ― Eu disse. ― Eu pelo menos escovei os dentes antes de dormir? ― Perguntei curioso.
― Calma! Sou eu quem tá contando a história aqui! ― Gabriel não quis me dar spoilers.
― Daí o Rafa viu você vomitando, e tentou dizer que queria vomitar também…
― Tentou? ― Perguntei. ― Como assim tentou? Ele não conseguiu terminar?
― Não… vomitou antes de terminar a sentença… só que a diferença é que ele vomitou no chão, conseguindo, inclusive, sujar a própria camiseta e a pontinha de seus tênis.
― Eca! ― Rafa disse com nojinho. ― E cadê minha camiseta? ― Ele perguntou.
― Lavei, né… ― Gabriel disse. ― Se eu não lavasse, mamãe ia ver…
Awnt… achei fofo o Gabriel ter feito isso pelo irmão.
― Ah… valeu… te devo uma… ― Rafa disse meio tímido.
― Não foi nada… pelo menos não tinha comida no vômito de vocês… vocês só beberam, não comeram nada… então só vomitaram água… o que é errado… sempre é bom comer antes de beber, senão vocês passam mal… tem que ter glicose no sangue…
― O que é glicose? ― Perguntei.
― Nada… ― ele respondeu. ― Deixa pra lá… enfim… aí o Rafa invocou que queria tirar a camiseta. Eu tentei convencer ele a tirar no chalé, que estava a quinze metros de distância, mas ele não quis. Arrancou os tênis, a camiseta e, não satisfeito, também arrancou a bermuda… daí resolveu que queria sair correndo por aí de cueca, porque o clima estava agradável.
― Ai não… ― Rafa disse colocando a mão na cabeça.
― Hahaha… ― eu ri.
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― Eu também fiz isso? ― Perguntei.
― Não… ― Gabriel disse. ― Mas você começou a confessar pra mim o quanto tava apaixonado por ele e que agora estava sofrendo porque ele estava só de cueca… e isso te frustrava bastante… porque você queria muito ele…
― Ai não… ― eu disse ficando vermelho e escondendo minha cara.
― Aí o Rafa queria te beijar, mas eu não deixei… porque vocês dois tinham acabado de vomitar… e isso seria bem nojento…
― Putz… ― Rafa disse de boca aberta. ― Obrigado mais uma vez… ― ele agradeceu.
― Não foi nada… aí eu tentei convencer vocês dois a entrarem no chalé, pra tomar um banho, pra escovar os dentes… mas vocês não queriam entrar de jeito nenhum. Daí eu tive que apelar e dizer que papai e mamãe estavam chegando… aí vocês dois, num minuto, correram para o chalé. Rafa surtou e disse que tinha que fingir que estava dormindo, para que papai e mamãe não desconfiassem de nada… daí ele se jogou na cama e começou a fingir que estava dormindo… mas isso só durou dez segundos, até ele começar a dormir de verdade…
― Porra! ― Rafa disse. ― Sobrevivi! Ainda bem que eu não fiz mais nada!
― Acabou pra você, porque o Lucas…
― Ai não… ― eu disse preocupado.
― Brincadeira… ― Gabriel disse rindo. ― Você surtou e quis escovar os dentes enquanto arrumava sua mala, que você dizia estar bem bagunçada.
― E eu arrumei? ― Perguntei.
― Não… quando você percebeu que só estava aumentando a bagunça, desistiu e foi dormir. Mas… foi basicamente isso… fim… e aí… o que acharam?
― Porca que pariu… ― Rafa disse colocando a mão na boca.
― Santa merda sagrada! ― Eu disse abismado.
― É… isso que dá beber… ― Gabriel disse rindo. ― Mas podem ficar despreocupados… eu já fiz pior… e não vou contar nada pro papai e pra mamãe… então… podem ficar sossegados…
― Ah, claro! Vamos ficar todos sossegados depois disso!
Depois disso, nossa batata e nossos cocos chegaram. Nós comemos e conversamos mais um pouco até que o celular do Gabriel tocou.
― Fala gatinha! ― Ele disse quando atendeu.
Era a Jú… provavelmente estava procurando por ele. Daí ele deu licença pra nós e nos deixou sozinhos.
― É… Gatinho… que noite foi essa… ― eu disse rindo enquanto botava o canudo do coco na boca.
― Que noite foi essa… ― ele suspirou igualmente.
Ficamos encarando a piscina por alguns segundos. Tinha algumas crianças nadando lá.
― Não quero saber… ― Rafa disse.
― O que!? ― Perguntei.
― Você vai ter que fazer o quadradinho de novo pra mim essa noite…
― Ai é? ― Eu disse rindo. ― E o que eu ganho com isso?
― Hum… ― ele disse e colocou o dedo na boquinha. ― Eu!
― E o que eu vou fazer com você? ― Perguntei fazendo uma carinha safada.
― Não posso contar… ― ele sorriu e me olhou de volta.
― Uhum… sei…
― A gente vai repetir isso alguma vez? ― Ele perguntou.
― Pra eu dançar de novo desse jeito!? ― Eu disse rindo. ― Nunquinha! Eu nunca mais boto uma gota de álcool na boca!
― Mas você fica sexy! ― Ele disse rindo.
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― Fico sexy de qualquer jeito… ― brinquei.
Ele veio até mim, beijou minha bochecha e, depois, continuamos lá na área da piscina conversando um pouquinho… eu estava com saudades de conversar com ele assim… fazia tempo que a gente não se dava tão bem… e parece que agora tudo estava se acertando